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A importância da atividade física e da alimentação para os rins

Postado em 20/06/2024 às 14h:30

Médico e nutricionista dão dicas de cuidados com o órgão tão fundamental para o bom funcionamento do organismo

Antes de mais nada, vamos falar das principais funções de um órgão extremamente vital para o corpo – os rins. Eles são responsáveis pela eliminação de produtos do metabolismo, controlar a pressão arterial, produção de hormônios e outros mediadores químicos e de eritropoetina, que estimula a produção de glóbulos vermelhos, metabolização de fármacos e toxinas, equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base.

É importante estar atento aos sinais de alerta que indicam que algo não vai bem com os rins: redução do volume urinário excretado, ⁠alteração da coloração da urina, ⁠urina “espumosa” (perda de proteínas na urina), presença de sangue (hematúria) e ⁠edema generalizado (anasarca). Os principais inimigos do órgão são:  hipertensão arterial, ⁠diabetes mellitus, ⁠anti-inflamatórios não-esteroidais e ⁠mioglobina (proteína responsável por transportar oxigênio nos músculos).

É essencial realizar exames anuais ou semestrais vezes por ano para acompanhar a saúde. Para detectar quadros de problemas renais podem ser realizados exames de: dosagens plasmáticas de creatina e ureia, de urinária de creatinina e plasmática de Cistatina C, clearance de creatinina, ⁠urina tipo I e urina 24h, ⁠microalbuminúria. A doença renal crônica, quando instalada, tem cinco estágios:
Grau 1 – função renal preservada;
Grau 2 – função renal levemente reduzida;
Grau 3 – função renal moderadamente reduzida;
Grau 4 – função renal severamente reduzida e
Grau 5 – falência renal.

Segundo o médico Rodrigo Gibin Jaldin é possível reverter quadros que não sejam tão graves, por este motivo é fundamental estar alerta aos cuidados com a saúde – “existem quadros de insulto agudo aos rins que são plenamente reversíveis. ⁠Nos estágios iniciais, é possível estabilizar e/ou impedir a progressão da doença renal. A automedicação, particularmente com uso regular de anti-inflamatórios, é extremamente perigosa, por ser altamente lesiva aos rins”.

Os rins produzem o hormônio eritropoetina que estimula a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea, e outras substâncias ativas no Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona e no Peptídeo Atrial Natriurético, reguladores da função cardiovascular, através do balanço entre vasoconstrição/vasodilatação, do equilíbrio hidroeletrolítico e do controle da pressão arterial. Participam ainda do metabolismo da vitamina D, auxiliando na saúde osteo-metabólica.

O doutor Rodrigo listou cuidados para manter os rins saudáveis no decorrer da vida:
✔️ Manter o peso corporal adequado;
✔️ Alimentar-se de maneira balanceada;
✔️ Controle rigoroso da pressão arterial;
✔️ Evitar o tabagismo;
✔️ Praticar exercícios físicos regulares;
✔️ Ter uma boa qualidade do sono;
✔️ Evitar uso frequente de anti-inflamatórios e a automedicação;
Todas essas medidas levam a melhora da saúde cardiovascular e endócrino-metabólica e reduzem a sobrecarga dos rins ao longo da vida.

Atividade física

Durante o exercício físico, ocorre a redistribuição do fluxo sanguíneo para os músculos em contração, ocasionando a redução relativa da perfusão dos outros órgãos, incluindo os rins. Deste modo, o desafio que a atividade física provoca ao organismo acaba causando uma sobrecarga funcional aos rins, o que pode justificar algumas alterações laboratoriais em esportistas que não necessariamente remetem a doença e que guardam relações com a intensidade do exercício físico executado.
Neste caso, pode haver perda de sangue e/ou proteína na urina dos praticantes de exercício físico em alta intensidade. O profissional que lida com este público deve estar familiarizado com estas possibilidades e tranquilizar o indivíduo quando esses achados forem transitórios.

“Essa sobrecarga relativa aos rins não é danosa, muito pelo contrário. Os exercícios físicos melhoram a capacidade funcional dos rins por melhorarem o metabolismo de carboidratos, por contribuírem na melhoria da composição corporal e no controle da pressão arterial, entre outros mecanismos. Quer garantir rins saudáveis? Pratique atividade física regularmente”, observa o médico Rodrigo Gibin Jaldin, supervisor da residência médica em Medicina do Esporte na UNESP e professor dos cursos de pós-graduação na Faculdade UNIGUAÇU.

É fundamental que pacientes com doença renal crônica façam exercícios físicos para cuidar da saúde cardiometabólica e para prevenir a sarcopenia. Em pacientes em hemodiálise, existem limitações para a realização das atividades decorrentes aos acessos vasculares, já que de certa forma podem limitar a execução de movimentos nos membros superiores.
Além disso, o paciente passa diversas horas conectado ao aparelho e muito frequentemente se desloca por quilômetros para um centro referenciado em hemodiálise. Por isso, são bem-vindas iniciativas de exercício supervisionado durante a sessão de hemodiálise, adaptado às limitações do paciente.

Saiba quais são os benefícios da atividade física para os rins, em pacientes com doença renal:
✔️ Controle dos fatores de risco de doenças cardiometabólicas: sedentarismo, dislipidemia, hipertensão, resistência insulínica, obesidade, estresse e tabagismo;
✔️ ⁠Melhora das funções endotelial e mitocondrial;
✔️ Redução da inflamação sistêmica e do estresse oxidativo;
✔️ Prevenir sarcopenia por gerar diminuição da atividade da miostatina e melhorar os diversos fatores de aptidão muscular. 

Massa muscular

A doença crônica dos rins leva à disfunção osteomuscular mediante a piora da regeneração e da qualidade muscular. A inflamação sistêmica e muscular que se instalam são traduzidas em perda de força muscular (dinapenia), perda de massa e função muscular (sarcopenia) e fibrose da musculatura, com consequente piora da capacidade funcional e da qualidade de vida.
Existem evidências de que programas de atividades físicas regulares possam impedir esse processo. Embora o principal Guideline de Tratamento da Doença Renal (KDOQI) recomende pelo menos 30 minutos de atividade física cinco dias por semana, ele não traz sugestões de qual programa de exercício físico deva ser aplicado.

A literatura disponível mostra que o treinamento de força possui papel estratégico em frear a progressão da disfunção muscular na doença renal crônica. “Os exercícios de força dinâmica (musculação) parecem ser mais eficientes que os exercícios isométricos. A musculação é eficiente isoladamente ou quando associada a exercícios aeróbicos (treino combinado). No contexto da doença renal crônica, praticar musculação evita a atrofia muscular e mantém a capacidade físico-funcional do paciente”, declara Jaldin.

Com um programa supervisionado de treinamento de força é possível obter:
✔️ Maior aptidão muscular (aumento de força, qualidade, resistência e potência muscular);
✔️ Redução da expressão da miostatina (via que impede o anabolismo muscular), da inflamação sistêmica, muscular e do estresse oxidativo;
✔️ Melhora da função mitocondrial.

Alimentação & saúde dos rins

A alimentação interfere direta e indiretamente na saúde renal, por meio do consumo de nutrientes como sódio, potássio, magnésio e controle calórico, prevenindo assim a obesidade e riscos renais associados a ela, por exemplo, o aumento da pressão arterial.

Já os produtos ricos em sódio são os que mais demonstram riscos e são considerados inimigos dos rins, no topo da lista estão os embutidos e os ultraprocessados mais salgados. “Não há um consenso claro sobre o consumo de proteínas em doses muito elevadas em longo prazo, mas há segurança nos valores de até 1,6g/kg, ou seja, o dobro da RDA, por períodos prolongados, sem impactar na saúde renal”, alerta Felipe Almeida, nutricionista, coordenador e professor da pós-graduação de Nutrição Comportamental e Clínica na Faculdade UNIGUAÇU.

Os alimentos mais ricos em potássio ajudam a manter os rins mais saudáveis como: banana, goiaba, abacate, entre outros, ajudam a manter o controle hidroeletrolítico, embora seja importante avaliar o contexto da dieta como um todo, não apenas de alimentos específicos. “O estado atual do paciente também importa. Caso seja um doente renal crônico, é importante realizar uma avaliação de proteínas totais da dieta e de nutrientes como magnésio e potássio”, orienta o nutricionista.

Além de doenças renais, o que pode aumentar os valores de creatinina é a suplementação de creatina e o ganho de massa muscular. Estas elevações são seguras e fisiológicas. A alimentação entra como parte da terapia em doenças renais, mas sem saber a causa da elevação da creatinina, não é possível afirmar se haverá benefícios apenas mudando a alimentação, ou seja, é preciso sempre tratar a causa. “Nas doenças renais mais crônicas sem hemodiálise, postula-se quantidades de 0,6 a 0.8g/kg. Já com diálise, a quantidade pode chegar a 1,2g/kg. Nos casos mais agudos, é preciso avaliar se existe um hipercatabolismo, podendo chegar em quantidades próximas de 1,5g/kg, a depender de cada caso. Estas recomendações são generalizadas e devem ser avaliadas individualmente”, observa Almeida.

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Quando o assunto é suplementação existem várias opções, mas é importante ressaltar que é necessário avaliar caso a caso. Segundo o nutricionista – “é possível repor as vitaminas, caso exista uma leve deficiência, é preciso ter um certo cuidado com suplementos proteicos para não ultrapassar a quantidade de proteínas e os itens a base de ervas também devem ser vistos com cuidado pelo risco de neurotoxicidades”.

Outro assunto que requer recomendação e vai variar de caso a caso, é a ingestão de água. Geralmente soma-se 400 a 600ml de água junto ao cálculo de excreção urinária (ex.: 700 ml de urina = 1100 a 1300 ml de água) porém o cálculo deve ser definido de acordo com cada caso, considerando a capacidade físico-funcional do paciente.

SOBRE OS AUTORES:

Felipe Almeida




Felipe Almeida

Graduação em Nutrição pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (2017). Pós-graduação em Bioquímica e Fisiologia da Nutrição pela faculdade Estácio de Sá. Pós-graduação em Neurociência e Comportamento pela PUC-RS.



Rodrigo Gibin



Rodrigo Gibin Jaldin

Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP (2001-2006), residência médica em Cirurgia Geral (2007-2009) e em Cirurgia Vascular (2009-2011) pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP, especialização em Cirurgia Endovascular pelo Instituto de Cirurgia Vascular e Endovascular de São Paulo (2011-2012) e doutorado em Bases Gerais da Cirurgia – Área de Cirurgia Cardiovascular – pela Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP (2013-2016).

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