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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Obesidade e cirurgia bariátrica

Postado em 07/09/2023 às 11h:00

Primeiro de tudo, é importante entendermos que a obesidade é uma doença crônica de caráter multifatorial, ou seja, envolve um cenário muito específico e individual, com influência de fatores genéticos e ambientais. O paciente pode realizar um alto consumo calórico – que pode ter influência do ambiente em que ele vive – e, junto a isso, esse paciente pode acreditar verdadeiramente que ele consome bem menos calorias do que de fato come.
Além disso, ele pode ter transtornos alimentares, pode ter questões emocionais envolvidas, pode ter problemas com o sono, pode ter realmente mais fome que o normal.

Outra questão envolvida nisso é a questão metabólica e de gasto energético, que pode ter influência da idade (já que, ao passar dos anos, o metabolismo tende a diminuir um pouco), do sexo (homens gastam mais energia, até porque normalmente possuem mais massa muscular que mulheres), da genética e da epigenética, de alterações hormonais, de termogênese, de quantidade de tecido adiposo marrom, entre outros fatores.

Há diversas alterações fisiológicas na obesidade, e uma delas é o aumento da secreção de leptina conforme aumenta o tecido adiposo.
O problema é que esse paciente fica resistente à leptina lá no hipotálamo, então ele não consegue ter uma saciedade adequada, sendo ainda mais difícil perder peso/gordura. Ou seja, para o paciente com excesso de peso, não basta “apenas querer” emagrecer e não se trata de uma questão de “força de vontade”, afinal há diversos mecanismos atuando nesse organismo de forma a frear a perda de peso e, ainda, a recuperar o peso perdido.

Atualmente, temos diversas terapias medicamentosas muito úteis para o controle da obesidade, ainda que necessitem sim da mudança do estilo de vida concomitantemente. No entanto, em casos de obesidade mais grave (como na obesidade mórbida), muitas vezes não é possível e efetivo o uso desses fármacos, sendo necessário uma intervenção mais invasiva: a cirurgia bariátrica.

A indicação para a realização da cirurgia bariátrica, no Brasil, ocorre quando o paciente possui um índice de massa corporal (IMC) acima de 40kg/m2 ou acima de 30 kg/m2 com comorbidades associadas (dislipidemia, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, etc.). Inclusive, para ser possível a realização da operação, o paciente tem que estar com obesidade há no mínimo 2 anos de acompanhamento sem perda de peso.

Com a cirurgia, esses pacientes podem perder até 40% do peso em 10 a 18 meses, e os resultados tendem a durar mesmo com certo reganho de peso em alguns pacientes.
Além disso, ocorre o controle das comorbidades associadas, o que é muito importante.

Atualmente, há duas técnicas principais de cirurgia bariátrica, o sleeve e o bypass.
O bypass gástrico é a técnica mais realizada no Brasil, e a perda de excesso de peso esperado em 2 anos é de 70%. No caso do sleeve, a perda de excesso de peso esperada é de 60%.
O sleeve é uma técnica mais segura, sem risco de hérnia interna ou mal absorção e sem anastomose. Essa técnica do sleeve consegue reduzir o volume total do estômago em 70-80%. Ainda, quanto aos mecanismos de ação dessas técnicas, podemos destacar seus efeitos importantes na fome e saciedade.

Ou seja, esses procedimentos são funcionais, pois altera tanto os sinais do trato gastrointestinal (os hormônios) até o sistema nervoso central, quanto os sinais endócrinos e os neuronais, o que também altera para outros órgãos (pâncreas e fígado).
Ocorrem mudanças em marcadores gastrointestinais como grelina, PYY, GLP 1 e amilina. Além disso, no caso do bypass, há aumento no gasto energético.

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Por fim, em resumo, diversos estudos científicos já demonstraram que a cirurgia bariátrica é o único tratamento para a obesidade que causa uma perda de peso maior que 15% sustentada por mais de 10 anos. Ela tem efeito principalmente na resolução e prevenção de novos casos de diabetes, e diminui a incidência de eventos cardiovasculares, a incidência de câncer e a taxa de mortalidade geral (redução em cerca de 30% a mortalidade geral).

Texto por: Pietra Fogaça Graduanda em nutrição

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