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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Estagnação na perda de peso

Postado em 24/05/2024 às 15h:28

Primeiro de tudo, é importante entendermos que, na grande maioria das vezes, o indivíduo pára de perder peso pois simplesmente não está seguindo a dieta, ou seja, está consumindo mais do que deveria, e/ou exagerando nas refeições livres, etc. No entanto, essa estagnação na perda de peso/emagrecimento também pode ocorrer por conta de uma diminuição da atividade física (e aqui não me refiro somente ao exercício físico em si, mas toda e qualquer movimentação diária).

Há alguns fatores que justificam essa estagnação na perda de peso, como as LIMITAÇÕES NO INQUÉRITO ALIMENTAR, ou seja, as pessoas tendem a subestimar a sua ingestão calórica em cerca de 20% a 50%, o que é bem significativo. Além disso, muitos indivíduos fazem uma SUPERESTIMAÇÃO DO GASTO CALÓRICO (tendem a relatar um gasto calórico com atividade física de cerca de 50% a mais que o real).
Contudo, o principal “freio” do emagrecimento é o AUMENTO DA FOME que ocorre após a perda de peso, pois nós temos alterações em diversos hormônios que controlam o apetite. Ocorre uma redução dos hormônios que aumentam a saciedade (que são anorexígenos), como a leptina, a insulina, a CCK, o PYY e o glp-1. Além disso, ocorre um aumento dos hormônios que aumentam a fome (que são orexígenos), como a grelina (afinal, se você está emagrecendo/comendo menos, o estômago estará mais vazio e então secretará mais desse hormônio da fome).

Além de tudo isso, a secreção de insulina irá reduzir (pois o indivíduo está comendo menos), e a secreção de leptina diminui (pois o tecido adiposo diminui e o adipócito atrofiou, logo, haverá menor produção de leptina). Ademais, o CCK e o PYY – que são peptídeos intestinais relacionados à digestão, motilidade e liberação de enzimas digestivas – serão menos secretados, pois o indivíduo está comendo menos.

Tendo em vista todo esse cenário, é compreensível entendermos que é inevitável um aumento da fome conforme ocorre o emagrecimento. De início, um obeso que está emagrecendo pode não sentir esse aumento de fome, pois antes ele estava resistente à leptina e à insulina e, por isso, tinha dificuldade em controlar a saciedade.

Depois que a dieta desse indivíduo é melhorada – mesmo que ele vá comer menos -, ele terá uma melhora da sensibilidade a esses hormônios e conseguirá ter um controle melhor do apetite. Entretanto, quando essa pessoa começa realmente a perder muito peso, aí ela volta a sentir fome (pois os hormônios anorexígenos estão baixos).

Pode te interessar também: O que ocorre no corpo durante o emagrecimento?

O grande problema é que, quanto mais peso o indivíduo perde, mais fome ele terá, e esse é o principal fator para a estagnação na perda de peso (por volta dos 6 meses de dieta). Além disso, muitas vezes, esses indivíduos nem percebem esse aumento da ingestão calórica (que é o que está causando o platô). É sabido que, para cada 1kg de peso perdido, a fome tende a aumentar em cerca de 100kcal e o metabolismo (gasto energético em repouso) tende a reduzir em cerca de 20 a 30kcal.

Um estudo observou mulheres que emagreceram até depois de 1 ano e observaram que os níveis hormonais não voltaram ao normal/basal (antes de emagrecerem) nem depois de 1 ano. Ou seja, o corpo não se acostumou, a grelina do indivíduo que emagreceu permaneceu mais alta mesmo após 1 ano e mesmo ela recuperando parte do peso, e os hormônios de saciedade permaneceram mais reduzidos.

É por isso que é realmente muito difícil manter a perda de peso, pois o seu corpo não quer isso, é antifisiológico. Logo, a chance de reganho (efeito rebote) é bem alta. No entanto, ainda assim, há estratégias (nutricionais, ambientais e farmacológicas) para minimizar esse reganho, sendo que o principal fator no “tratamento da obesidade” é uma MUDANÇA COMPORTAMENTAL!

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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