Tudo sobre a regulação do apetite
Postado em 25/11/2023 às 11h:00
A célula adiposa exerce a expressão de uma proteína chamada leptina, que tem ação no hipotálamo de forma a aumentar a termogênese (produção de calor). No hipotálamo, teremos dois conjuntos neuronais, os “neurônios NPY/AgRP” (que são orexígenos, ou seja, aumentam a fome) e os “neurônios da POMC/CART” (que são anorexígenos e, portanto, diminuem a fome), presentes no núcleo arqueado do hipotálamo.
A ativação desses neurônios NPY/AgRP diminui a expressão e a liberação desses neurotransmissores, levando a uma redução do apetite. Ou seja, o papel da leptina é regular para baixo a expressão desses neurotransmissores e, dessa forma, diminuir o apetite. No entanto, na POMC/CART, ela aumenta a expressão e a liberação do chamado “Alfa-MSH”, que irá ativar os receptores MC4 (receptores de melanocortina do tipo 4), que também levam a uma redução do apetite.
Entretanto, quando pensamos no tratamento da obesidade, precisamos entender que não é tão simples assim, ou seja, não basta apenas interferir nessas expressões. Não é só a quantidade de leptina que importa, mas sim a sua capacidade de se ligar ao seu receptor! Não é à toa que, se formos dosar a leptina em um indivíduo com obesidade, veremos que ele terá os níveis muito altos, mas ele terá um quadro de “resistência à leptina”. Além disso, outros neurotransmissores também acabam influenciando no comer e na sinalização da fome, e não só a leptina.
Nós temos uma conversa entre o balanço energético e as vias neurais do nosso corpo, e uma conversa entre o balanço energético e as vias periféricas. Logo, alterações no balanço energético, como menor disponibilidade de glicose e/ou de ácidos graxos, uma menor disponibilidade de energia para o tecido adiposo aumentando a sinalização de leptina, uma redução na glicose plasmática aumentando a gliconeogênese (que levará a um aumento na glicose e secreção de insulina), maior secreção de GLP1, PYY e GIP e maior secreção de grelina, todos eles terão papel estimulante ou inibitório nos circuitos neurais.
Temos também alguns agentes que podem ser estimulantes ou inibitórios, um exemplo são os opióides, que tendem a ser inibitórios, assim como os canabinóides podem apresentar um papel excitatório, a noradrenalina inibitória, o GABA inibitório, já a serotonina pode ser inibitória ou excitatória a depender de onde atua, e a dopamina a mesma coisa.
E é por isso que, inclusive, alguns antidepressivos podem levar a uma busca maior por alimento e outros não, pois depende se houve maior estímulo nos NPY/AgRP ou nos POMC/CART, pois dessa forma a transmissão dos neurônios de segunda ordem pode ser mensagem do tipo “comer mais” ou “comer menos”.
Assim como esse balanço energético entre saída e entrada de energia (gasto calórico e ingestão) também tem influência direta nessa sinalização, levando a uma resposta eferente via reflexo vago. Logo, se a pessoa está comendo bem, ela terá menor estimulação vagal e irá liberar menos grelina. A grelina é estimulatória dos genes NPY e AgRP lá no núcleo arqueado, e isso fará uma sinalização com a região lateral no hipotálamo e área pré-frontal.
Leia sobre: Os componentes do balanço energético
Por fim, quanto ao papel do hormônio insulina, precisamos entender que, na verdade, a insulina é sacietógena (aumenta a saciedade). Ela atua diretamente no núcleo arqueado diminuindo a sinalização de NPY e AgRP e aumenta a sinalização dos neurônios da POMC e da CART, aumentando a sinalização de alfa-MSH e aumentando sinais catabólicos, que são aumento do gasto energético e redução do apetite.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição