Tudo sobre fígado gorduroso
Postado em 12/03/2024 às 09h:50
Existem diversos tipos de doenças que levam à disfunção do fígado (órgão central no metabolismo de nutrientes e substâncias), as mais conhecidas são: hepatites, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e a doença hepática provocada pelo consumo de álcool. A DHGNA é uma condição em que há acúmulo de gordura no fígado sem relação com o consumo de álcool. Ela se tornou uma preocupação crescente em todo o mundo devido ao aumento da prevalência de obesidade e do estilo de vida sedentário.
Existem dois tipos principais de DHGNA, a Esteatose Hepática Não Alcoólica (EHNA), onde há apenas acúmulo de gordura no fígado, e a Esteato-Hepatite Não Alcoólica (EHNA), onde ocorre inflamação e danos às células do fígado devido ao acúmulo de gordura. As causas exatas da DHGNA não são totalmente compreendidas, mas fatores como obesidade, resistência à insulina, diabetes tipo 2, hipertrigliceridemia (níveis elevados de triglicerídeos no sangue) e síndrome metabólica estão associados ao seu desenvolvimento. A DHGNA geralmente não apresenta sintomas no início, mas à medida que progride, podem ocorrer sintomas como fadiga, dor abdominal, perda de peso não intencional, fraqueza e confusão.
O diagnóstico da DHGNA geralmente envolve exames de sangue para verificar a função hepática e imagens como ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética para avaliar a quantidade de gordura no fígado. O tratamento da DHGNA geralmente envolve mudanças no estilo de vida, como perder peso gradualmente, seguir uma dieta saudável e praticar exercícios físicos regularmente. Em casos mais avançados, pode ser necessário o acompanhamento médico mais especializado e, em alguns casos, podem ser prescritos medicamentos para ajudar a controlar os sintomas e reduzir o risco de complicações.
É importante destacar que a prevenção é fundamental. Manter um peso saudável, seguir uma dieta balanceada, praticar exercícios físicos regularmente e evitar o consumo excessivo de álcool são medidas importantes para reduzir o risco de desenvolver DHGNA. A DHGNA é uma condição séria que requer atenção, especialmente em uma era onde a obesidade e os distúrbios metabólicos são prevalentes. Com mudanças no estilo de vida e acompanhamento médico adequado, é possível gerenciar e até mesmo reverter os efeitos dessa doença.
Como o fígado é o responsável por administrar o que entra e o que sai do organismo, quando há uma disfunção na síntese e no armazenamento de gordura nos adipócitos (células de gordura do organismo), começa a acumular gordura dentro do próprio fígado, levando a essa doença hepática gordurosa. Infelizmente, isso acaba provocando um quadro de inflamação, resultando em esteatose hepática. Posteriormente, essa inflamação danifica as células, causando cicatrização e fibrose, resultando em cirrose hepática, que é uma doença irreversível (ou seja, não tem cura).
Quanto maior o peso corporal total do paciente e quanto mais presente for o quadro de resistência à insulina (RI) e o diabetes tipo 2 (DM2), maior será a quantidade de gordura no fígado e o grau de esteatose hepática. Todo paciente com esteatose pode apresentar níveis elevados de triglicerídeos (hipertrigliceridemia), portanto, estratégias dietéticas com menor teor de carboidratos (e de melhor qualidade, como os carboidratos integrais) têm bons resultados nesses casos.
Além disso, também é visto que pode ocorrer aumento da permeabilidade intestinal, levando a um aumento no número de bactérias patogênicas, o que aumenta as endotoxinas inflamatórias, como o lipopolissacarídeo (LPS), que chegam ao fígado pela veia porta hepática, facilitando a inflamação. A resistência à insulina é um fator chave nesse processo, pois aumenta a síntese de gordura no fígado, promove a lipólise (quebra do triglicérides em ácidos graxos e glicerol) no adipócito e reduz a produção de lipoproteínas (VLDL) para transportar a gordura para fora do fígado. Isso resulta em maior acúmulo de gordura no fígado, gerando produtos de glicação e liberação de toxinas (quadro conhecido como “lipotoxicidade”).
Além do excesso de carboidratos de má qualidade, o excesso de gordura saturada também agrava a esteatose hepática, pois aumenta a liberação de gordura. A gordura saturada contribui mais para o acúmulo de gordura no fígado do que o próprio açúcar, pois facilita a transferência de gordura do adipócito para o fígado. O consumo de gorduras saturadas tem sido associado ao desenvolvimento e à progressão da esteatose hepática.
As gorduras saturadas são encontradas principalmente em produtos de origem animal, como carnes gordurosas, laticínios integrais e certos óleos vegetais, como o óleo de coco e o óleo de palma. Quando consumidas em excesso, as gorduras saturadas podem contribuir para o acúmulo de gordura no fígado de várias maneiras: podem estimular a síntese de gordura no fígado, aumentando assim a quantidade de lipídios armazenados no órgão, podem levar à resistência à insulina, um problema metabólico no qual as células do corpo têm dificuldade em responder adequadamente à insulina e podem também contribuir para a inflamação do fígado, o que é um componente chave na progressão da esteatose hepática para estágios mais graves, como a esteato-hepatite não alcoólica e a cirrose.
Portanto, embora as gorduras saturadas sejam uma fonte importante de energia na dieta, é fundamental consumi-las com moderação, especialmente para aqueles que estão em risco de desenvolver ou já têm esteatose hepática. Em vez disso, é recomendável optar por fontes de gorduras saudáveis, como gorduras insaturadas encontradas em peixes, abacates, nozes e sementes, que têm sido associadas a benefícios para a saúde do fígado.
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Por fim, vale ressaltar que o ômega 3 (ácido graxo essencial, ou seja, que o nosso corpo não consegue produzir sozinho) tem efeito hepatoprotetor, reduzindo a síntese de gordura no fígado. A suplementação de ômega 3 deve ser considerada em doses mais altas, entre 2 a 4g por dia de EPA + DHA, dependendo da fonte/marca. A vitamina E (800 UI por dia) e o extrato de alcachofra (400- 800mg) também podem ser coadjuvantes nesse processo, mas a perda de peso e a melhora na dieta são os principais tratamentos.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição