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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Existe suplemento para controlar a pressão?

Postado em 28/05/2024 às 13h:51

Antes de tudo, é importante entendermos que a pressão alta é um marcador de saúde silencioso e de difícil diagnóstico, porém, extremamente carente de cuidados. A hipertensão arterial sistêmica é uma doença crônica de caráter multifatorial, ou seja, ela pode ser decorrente tanto de fatores ambientais, quanto de fatores como a alimentação, o sedentarismo, o abuso de álcool, uso de drogas, estresse, genética, sono ruim, sobrepeso e obesidade.

Geralmente, quando o paciente está com a pressão sistólica acima de 130 mmHg e a pressão diastólica acima de 80-89 mmHg, algumas literaturas já enquadram-se como um quadro de “pré- hipertensão”. A hipertensão arterial, por si só, já é um fator de risco para doenças cardiovasculares, o que piora quando está concomitante – ou seja, acontecendo em conjunto – com outras comorbidades, como dislipidemia, diabetes mellitus do tipo 2 e obesidade. Vale lembrar que apenas uma aferição de pressão não é suficiente para estabelecer diagnósticos, mas o nutricionista pode sim aferir a pressão arterial do paciente durante uma consulta para ter uma ideia de como está.

Se a aferição da pressão der um valor de “pré-hipertensão” (130-139/85-89 mmHg) – a chamada “hipertensão mascarada” – é importante que seja realizado nesse paciente o MAPA (exame em que o paciente fica o dia inteiro com o aparelho medindo a pressão, inclusive no sono, o que é importante pois alguns pacientes têm alterações de pressão nesse momento), logo, o nutricionista deve encaminhar esse paciente para o médico. Se o MAPA der normal, as aferições podem ser feitas apenas no próximo ano.

Vale lembrar que, às vezes, pode ocorrer a chamada “hipertensão do avental branco”, que é a alteração de pressão pelo fato de o paciente sentir-se nervoso ao ir ao profissional de saúde. Ocorre aumento da liberação de catecolaminas, ativação de receptores adrenérgicos beta 1, aumento do débito cardíaco, aumento da frequência cardíaca e, consequentemente, aumento da pressão arterial.

Alguns estimulantes – como a cafeína – podem agir assim e, de maneira aguda, piorar o quadro do paciente que já é hipertenso. Por isso que não é interessante trabalhar com estimulantes no paciente hipertenso, já que tudo que aumenta o débito cardíaco, aumenta também a pressão.

Considera-se hipertensão estágio 1 e 2 quando a pressão está entre 140-179/90-109, nesses casos, às vezes também pode ser hipertensão do avental branco, mas muitas vezes pode ser realmente hipertensão (realizar MAPA). A hipertensão estágio 3 consiste na pressão sistólica igual ou acima de 180 e a diastólica igual ou acima de 110 e, se estiver maior que isso, normalmente é recomendado encaminhamento ao serviço de emergência.

Ainda, é importante que todos os nutricionistas saibam que a pressão arterial nada mais é do que a multiplicação do débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo coração em 1 minuto) pela resistência vascular periférica (é a resistência que os pequenos vasos fazem no fluxo sanguíneo). Se o fluxo de sangue passa por ali de forma mais resistente/difícil, a pressão arterial aumenta. Em pacientes que têm placas ateroscleróticas significativas, posso ter aumento da pressão arterial.

O que influencia na pressão arterial é o diâmetro vascular, o sistema nervoso simpático (adrenalina, noradrenalina) e o controle renal (controlar a diurese e, portanto, mexer na pressão arterial). Além disso, algumas condições também influenciam na pressão: pacientes com sobrepeso e obesidade (o próprio aumento do peso corporal já aumenta o débito cardíaco), diabetes (alterações glicêmicas influenciam na resistência vascular periférica e, quando associadas a maior estresse oxidativo, podem também influenciar na produção de substâncias com efeito vasodilatador) e/ou problemas renais são mais propensos a terem hipertensão arterial.

A genética e a idade também são fatores de risco, já que com o passar dos anos a atividade da enzima óxido nítrico-sintetase endotelial reduz, o que tende a diminuir a produção da óxido nítrico, diminuindo vasodilatação, podendo aumentar risco de pressão. A hipertensão é, normalmente, assintomática (não gera sintomas), ainda que algumas pessoas relatem dores de cabeça (na nuca).

Quanto aos métodos de tratamento, podemos controlar a pressão através da produção de substâncias com efeito vasodilatador, como o óxido nítrico (NO), que é um gás de meia-vida curto. O aumento de glicemia (no paciente com diabetes) pode comprometer a produção de NO, pois há maior estresse oxidativo, que diminui a atividade da enzima que produz NO. Alterações renais, avanço da idade e processos inflamatórios também podem influenciar na pressão arterial.

Além do NO, compostos que possam influenciar no controle do peso, na redução de marcadores inflamatórios e no controle do perfil lipídico também influenciam na redução da pressão arterial elevada. Também podemos usar compostos que possam aumentar os níveis de óxido nítrico diretamente, como os nitratos (convertidos em nitrito e, posteriormente, em NO) e a arginina (que é precursora de NO). O suco de beterraba pode ser uma alternativa interessante pensando em aumento de óxido nítrico e, de certa forma, controle da pressão arterial.

A ação renal também controla os níveis pressóricos, através do sistema renina-angiotensina- aldosterona. Quando há queda significativa da pressão, os rins liberam renina, que converte angiotensinogênio em angiotensina I. A enzima conversora de angiotensina (ECA) converte, então, a angiotensina I em angiotensina II, que é quem já faz vasoconstrição e aumenta a pressão.

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A angiotensina II também faz aumento da produção de aldosterona, que aumenta a retenção de sódio e água, o que aumenta também a pressão arterial. Logo, em pacientes que têm muita ativação dessa via, provavelmente é válido o uso de algum composto ou fármaco que possa diminuir a atividade dessa vida. Além disso, a angiotensina I também pode ser convertida em angiotensina I-7, que ativa um receptor, que tem efeito de vasodilatação. Logo, em casos específicos, seria interessante o uso de compostos com influência no sistema renina-angiotensina- aldosterona, ou compostos com ação diurética, ou então compostos que possam inibir a ECA.

Como exemplos de fármacos que inibem (são antagonistas) do receptor AT1, temos a Losartana, Valsartana, Irbesartana etc. Logo, esses compostos diminuem a interação da angiotensina II com o receptor AT1 e promovem a vasodilatação. Há fármacos que inibem a ECA (os “IECA”) – como o Captopril e Enalapril – e, consequentemente, diminui conversão de angiotensina I em II, o que provoca diminuição do efeito de vasoconstrição e, assim, reduzir a pressão arterial. Os antagonistas de aldosterona (diuréticos poupadores de potássio) são compostos que se ligam no receptor mineralocorticoide, ou seja, diminuem a ativação do receptor de aldosterona, reduzindo a excreção de potássio. Um exemplo é a Espironolactona, que se liga no receptor no túbulo e impede que a aldosterona entre na célula e exerça seus efeitos.

Alguns compostos naturais podem ter ação para controle de pressão arterial, como o Hibiscus, principalmente através da inibição da atividade da ECA. Além disso, o Hibiscus pode ter efeito também de antagonista de aldosterona. Além disso, também temos os bloqueadores do canal de cálcio, que são fármacos e/ou compostos naturais que causam a diminuição da estabilidade e da contratilidade, aumentando o tempo de relaxamento e reduzindo a resistência vascular periférica, reduzindo a pressão arterial. O magnésio também age como antagonista de cálcio, mas os estudos com magnésio são limitados (útil para pacientes com deficiência de magnésio).

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição
Revisão: Talita Szidlovski

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