Por Pietra Fogaça

Pietra Fogaça | Nutricionista Comportamental

Tudo sobre glicogênio

Postado em 11/06/2024 às 16h:06

Primeiramente, é necessário entendermos que o glicogênio nada mais é do que a junção de muitas moléculas de glicose, de uma forma mais compacta e, de certa forma, “inteligente”. O processo de formação de glicogênio no músculo ou no fígado chama-se “glicogênese”, que é fundamental na manutenção da glicemia (nesse caso, me refiro ao glicogênio armazenado no fígado) e na metabolização durante exercício (e, nesse caso, ao glicogênio armazenado no músculo). Ou seja, após a alimentação, nós temos essa via metabólica que direciona para a formação de glicogênio.

Essa via ocorre com a captação de Glicose (muscular ou hepática), conversão dessa glicose em Glicose-6-Fosfato, depois em Glicose-1-Fosfato, que será convertida em glicogênio! Inicialmente, temos a conversão da Glicose-1-Fosfato em UDP-Glicose, pela enzima UDP-Glicose Pirofosforilase.

No nosso músculo e fígado temos uma proteína chamada Glicogenina (“molde”), que recebe o glicogênio, como se fosse uma “âncora”. Duas enzimas importantíssimas, a Glicogênio-Sintase (GS) e Glicosil-Transferase (GT), atuam na transformação da glicose em glicogênio. A GS é responsável pelas ligações alfa-1,4 e também pela conexão da glicose na molécula de glicogenina. Ou seja, ela vai ligando várias moléculas de glicose entre si pela ligação alfa-1,4. A GT é quem faz as ramificações nessa cadeia linear de glicose feita pela GS, ou seja, ela vai fazendo as ligações alfa-1,6 de forma que crie várias ramificações.

A principal lógica que devemos entender aqui é que, quanto mais eu ramificar, mais eu consigo ESTOCAR glicogênio (otimiza espaço). Glicogênio nada mais é do que um monte de glicoses conectadas entre si e também com ramificações. O glicogênio vai crescendo e continua dentro da glicogenina (seu molde, casinha de estoque). O processo contrário consiste na “glicogenólise”, que é a quebra do glicogênio (reservatório/estoque de glicose localizado no músculo ou no fígado) em glicose, mas cada tipo de glicogênio tem uma metabolização diferente.

O glicogênio muscular será utilizado pelo próprio músculo, mas o hepático pode ser convertido em glicose livre, que vai para a circulação e auxilia na homeostase glicêmica (a concentração de glicose no sangue é crucial pois é fonte de energia para as nossas células). O cérebro e as hemácias requerem suprimento contínuo de glicose, logo, precisamos manter uma concentração de glicose no sangue acima de 70mg/dl. No jejum, teremos tanto a glicogenólise quanto a gliconeogênese ocorrendo no indivíduo.

Leia também: Metabolismo dos carboidratos

A enzima Glicogênio-Fosforilase, que faz a quebra e vai liberando a glicose, possui uma particularidade pois consegue ir quebrando essa glicose em até 4 unidades da ramificação. Ou seja, ela vai da unidade de glicose que tem a ramificação grudada (“glicose 1”) até mais 3 unidades de glicose lineares. Ela também acaba tendo uma outra atuação, que é de desramificação, ou seja, ela vai tirar as glicoses que estão presentes na ramificação e vai colocá-las linearmente na molécula de glicogênio, para conseguir então removê-las com facilidade. Ou seja, ela vai tirando as “perninhas” do glicogênio.

Durante o exercício físico, teremos vias metabólicas diferentes atuando e, por mais que uma predomine sobre a outra – a depender do tipo de exercício -, todas estão sempre atuando em algum grau. O nosso músculo responde à intensidade, e não à duração do exercício, ele não sabe o que é duração, o que ele sabe é OFERTA e DEMANDA energética (ele responde ofertando energia de acordo com a demanda energética). Ou seja, ao aumentar a intensidade do exercício, eu aumento o trabalho para os meus músculos, aumento também o gasto energético e, ao aumentar o gasto energético, eu preciso fornecer mais energia mais velozmente.

O músculo não está “cronometrando tempo”, mas sim selecionando uma rota energética que forneça energia na velocidade adequada para aquela carga/intensidade que está sendo usada. Ao aumentar a intensidade, o corpo irá recalcular a rota e, consequentemente, irá diminuir o tempo. Logo, o tempo de exercício é uma consequência da rota metabólica utilizada. Dependendo da intensidade, teremos uma determinada demanda energética, que será atendida por diferentes rotas. Por mais que a via energética do ATP- CP (fosfagênio) seja extremamente potente, ela é pouco capaz. A rota da lipólise (uso de gordura como fonte de energia), no outro extremo, é extremamente capaz, porém pouco potente.

Um aspecto interessante sobre o consumo de carboidratos e o treinamento é justamente a forma como eles “conversam”. Quanto mais glicogênio muscular o paciente possui, maior o desempenho que ele terá (físico ou performático). Quando há a redução do glicogênio muscular há também a ativação de algumas vias metabólicas, como a da AMPK, que está associada com a ativação de PGC-1alfa, que é um fator de transcrição que atua aumentando a expressão de proteínas associadas com a produção de energia. Além disso, a menor disponibilidade de carboidratos advindos da dieta gera menor secreção de insulina, o que gera mais lipólise e, consequentemente, gera mais ácido graxo livre e mais processo de ativação do fator de transcrição PPAR-delta, que auxilia no aumento da oxidação de gorduras.

Todavia, vale lembrar que oxidar mais gordura não significa maior emagrecimento, é necessário avaliar o que entrou de gordura também. O emagrecimento (perda de gordura corporal) é o resultado de um desbalanço na ingestão de alimentos e gasto de energia. Ou seja, é o que ocorre quando o consumo de alimentos/calorias é INFERIOR ao gasto de calorias, de forma CRÔNICA (persistente ao longo do tempo).

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

Compartilhe:

Veja também

Como saber se tenho transtorno a...

É essencial saber que ter uma alimentação funcional, ou seja, que não acarreta mais malefícios que benefícios dependerá de diversas escolhas.

Como os árbitros avaliam os atle...

Os árbitros de fisiculturismo desempenham um papel fundamental pois suas avaliações podem influenciar diretamente o desempenho dos atletas.

Técnica avançada do pull down: c...

O pull down é um exercício de musculação focado no desenvolvimento dos músculos das costas, especialmente o latíssimo do dorso.