A dieta de um atleta deve ser diferente?
Postado em 08/06/2023 às 10h:00
Muitos indivíduos ficam confusos ao verem algumas estratégias nutricionais utilizadas em diferentes esportes, mas isso não deveria causar estranheza, já que a nutrição não é única e universal, e sim individualizada. Um dos maiores erros na área da nutrição é achar que algumas recomendações são “imutáveis”, e que se aplicam a tudo e a todos. E antes de desmistificar alguns desses conceitos, é necessário entendermos o que é, de fato, a nutrição.
A nutrição nada mais é do que os processos de ingestão, digestão, absorção e metabolização dos materiais nutritivos que foram ingeridos. O nutriente, por outro lado, é uma parte do alimento, e esse desempenha funções específicas no nosso organismo.
Sabendo disso, é compreensível dizermos que cada organismo terá a sua própria demanda para os determinados nutrientes. Indivíduos não atletas ou levemente ativos fisicamente terão, normalmente, uma demanda muito semelhante dos diferentes nutrientes, o que NÃO ocorre quando falamos de atletas ou indivíduos muito ativos.
Indivíduos que praticam muito esporte e/ou são muito ativos fisicamente terão, por consequência, necessidades nutricionais mais altas do que indivíduos sedentários. E, além disso, diferentes diretrizes nutricionais acabam se aplicando entre esses diferentes públicos.
Um exemplo é a própria recomendação de fibras: sabemos que fibras são extremamente saudáveis e, de forma geral, devem estar presentes na alimentação de todos os indivíduos. Todavia, pensando na rotina de um atleta de Endurance (que realiza treinos/provas longas e contínuas), é totalmente NÃO recomendável a ingestão de fibras pré-prova ou intra treino/prova. Isso porque as fibras agem diminuindo o esvaziamento gástrico, o que pode causar desconfortos gastrointestinais muito significativos e, consequentemente, prejudicar o desempenho esportivo do atleta.
Mas isso não significa que atletas não devem consumir fibras, bem pelo contrário! As fibras auxiliam na saciedade, na diminuição do risco para desenvolvimento de alguns cânceres e também na prevenção contra doenças cardiovasculares.
Além da questão das fibras, outro exemplo de recomendação diferenciada que vemos entre atletas e não atletas é a recomendação diária de ingestão de sódio. É sabido que o excesso de sódio na alimentação pode prejudicar o controle da pressão arterial e, quando há uma predisposição maior para hipertensão arterial, esse controle fino da ingestão de sódio pela dieta se torna ainda mais necessário.
Mas essa recomendação geral de “ingira pouco sódio” e/ou “controle bem a quantidade de sal na comida” acaba não sendo aplicável para alguns atletas, principalmente aqueles constantemente envolvidos em provas que desidratam muito por suor.
Alguns atletas, como corredores de rua, realizam longas provas de corrida (como maratonas) sob o sol e o calor e, consequentemente, perdem muita água (desidratam) e muito sódio, através do suor. Nesses casos, é até recomendado a ingestão de quantidades mais elevadas de sódio.
É por isso que, inclusive, muitas vezes, alguns atletas fazem a reposição de eletrólitos – moléculas perdidas através do suor – durante uma prova ou treino prolongado. Afinal, esses micronutrientes também são importantes para a manutenção da homeostase do organismo, ou seja, a falta de sódio também é muito preocupante.
Por fim, outro exemplo muito interessante de diferenças nas recomendações de ingestão de macro e micronutrientes, entre atletas e não atletas, é a ingestão de açúcares. A lógica é a mesma da ingestão de sódio, já que, de forma geral, recomenda-se que a população comum tenha parcimônia na ingestão de açúcares como doces ricos em sacarose. A recomendação é que a população comum ingira seus carboidratos majoritariamente através de grãos integrais, frutas e leguminosas, que são alimentos extremamente saudáveis!
Leia também: A importância da proteína no pós-treino
Entretanto, quando falamos de atletas, muitas vezes é até necessário que eles consumam esses açúcares mais simples (constituídos, muitas vezes, por glicose pura ou então mistura de frutose e glicose).
Em provas longas ou treinos longos, por exemplo, recomenda-se a ingestão de um suplemento de carboidrato (em gel ou líquido) para a manutenção da glicemia e melhora do desempenho no restante do treino.
Ou seja, a nutrição é muito individual e, mesmo que muitas recomendações sejam semelhantes para os diferentes indivíduos, ainda assim os atletas necessitam de cálculos nutricionais diferentes e contextualizados de acordo com a modalidade esportiva!
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição