Como orientar atletas de fisiculturismo em fase de pré-contest?

Postado em 30/06/2025 às 10h:05

A fase de pré-contest é um dos momentos mais críticos e sensíveis dentro da preparação de um atleta de fisiculturismo. É nela que se decide o refinamento estético e o real potencial competitivo no palco. Para treinadores e atletas, entender as demandas fisiológicas, emocionais e estratégicas desse período é essencial para garantir uma performance extraordinária e obviamente a preservação da saúde do bodybuilder.

Entendendo a fase de pré-contest

Geralmente iniciada algumas semanas antes da competição, a fase de pré-contest visa reduzir ao máximo a gordura corporal sem comprometer a massa muscular construída na fase de off-season. Trata-se de um verdadeiro desafio de ajuste fino, onde o objetivo principal é alcançar definição muscular extrema, com separações visíveis, vascularização e, em algumas categorias, estrias evidentes.
A partir deste ponto, o trabalho do treinador envolve muito mais do que apenas prescrever treinos: é necessário aplicar estratégias integradas de manipulação nutricional, controle de variáveis do treinamento e manejo psicológico.

Planejamento nutricional e ajustes estratégicos

Durante o pré-contest, o déficit calórico controlado é indispensável, mas precisa ser cuidadosamente ajustado semanalmente para evitar perda muscular. Estratégias como o carb cycling (ciclagem de carboidratos) e os refeed days (dias de realimentação) são comumente aplicadas para manter o metabolismo ativo, preservar massa magra e melhorar o estado psicológico do atleta.
O acompanhamento nutricional individualizado é vital. A literatura sugere que a perda de peso ideal está entre 0,5% a 1% do peso corporal por semana (Helms et al., 2014), o que permite minimizar a perda de tecido magro. Ajustes finos em macronutrientes, especialmente proteínas (em torno de 2,2g a 2,8g/kg de peso), ajudam a garantir esse equilíbrio.

Treinamento de força: intensidade e preservação de massa

Ao contrário do que muitos pensam, a fase de pré-contest não exige redução significativa na intensidade do treino resistido. Pelo contrário: manter altas cargas e volume controlado ajuda a preservar a musculatura. O foco aqui deve estar na manutenção de estímulos neuromusculares e na evitação de overtraining.
O cardio pode (e deve) ser introduzido de forma estratégica. Sessões de LISS (low-intensity steady state) ou HIIT devem ser planejadas com base na resposta do atleta à dieta e ao progresso da composição corporal, sem comprometer o desempenho no treino de força.

Manipulação hídrica e peak week: onde mora o detalhe

A semana final – a famosa peak week – exige atenção redobrada. Manipulações de água, sódio e carboidrato são usadas para melhorar o aspecto visual, mas sem protocolos universais: cada atleta responde de forma única. Aqui, experiência prática, registros de temporadas anteriores e comunicação constante com o atleta são diferenciais cruciais.
Evitar protocolos excessivamente agressivos, como desidratação extrema ou jejum prolongado, é também um cuidado ético. O objetivo é aprimorar a estética sem colocar em risco a saúde – uma linha tênue que exige responsabilidade profissional.

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Monitoramento psicológico: o que poucos falam, mas todos sentem

O estresse emocional na fase de pré-contest é elevado. Fome constante, cansaço, alterações de humor e queda de libido são comuns. É papel do treinador manter uma comunicação empática, contínua e realista, ajudando o atleta a manter o foco sem criar metas irreais ou gerar culpa em caso de oscilação no progresso.
Além disso, a periodização psicológica envolve incluir momentos de reforço positivo, promover sensação de progresso e trabalhar a autoconfiança do atleta no processo.

Conclusão: ciência, sensibilidade e estratégia

Orientar atletas de fisiculturismo em fase de pré-contest exige mais do que conhecimento técnico. É preciso aliar ciência, sensibilidade e estratégia personalizada, respeitando a individualidade biológica, emocional e competitiva de cada atleta.
O treinador que domina a teoria, aplica na prática e acompanha de perto cada fase da preparação entrega muito mais do que um físico competitivo – entrega confiança, segurança e longevidade no esporte.

Referências Bibliográficas

Helms, E. R., Aragon, A. A., & Fitschen, P. J. (2014).
Evidence-based recommendations for natural bodybuilding contest preparation: nutrition and supplementation. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 11(1), 20.
https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/1550-2783-11-20.
Schoenfeld, B. J., & Aragon, A. A. (2018).
How much protein can the body use in a single meal for muscle-building? Implications for daily protein distribution. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 15(1), 10.
Trexler, E. T., Smith-Ryan, A. E., & Norton, L. E. (2014).
Metabolic adaptation to weight loss: implications for the athlete. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 11(1), 7.
Krieger, J. W., Sitren, H. S., Daniels, M. J., & Langkamp-Henken, B. (2006).
Effects of variation in protein and carbohydrate intake on body mass and composition during energy restriction: a meta-regression. The American Journal of Clinical Nutrition, 83(2), 260–274.
Hackett, D. A., & Johnson, N. A. (2017).
Resistance training for hypertrophy: a review of the acute physiological responses and chronic adaptations. Sports Medicine, 47(4), 631–654.

Pode te interessar também: O papel da periodização, nutrição e fármacos no fisiculturismo

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