Dieta paleolítica é saudável?
Postado em 02/09/2023 às 10h:00
Primeiro de tudo, é importante entendermos que, na verdade, nem existe “uma” dieta paleolítica, já que os indivíduos paleolíticos não se concentravam apenas em um local ou região, e sim em vários. Ou seja, o consumo alimentar variava de região para região, até porque havia áreas rochosas, áreas próximas a lagos e oceanos, áreas mais verdes, etc.
Dessa forma, nem tudo que era cultivado em um local poderia ser cultivado no outro, pois o clima e solo eram distintos e, portanto, interferem no consumo alimentar daqueles habitantes da região.
Além disso, também variava de época para época e de ano para ano, até porque a era paleolítica foi uma era bem extensa na história da humanidade.
Esse estilo de alimentação se tornou popular nos anos atuais principalmente por conta de Loren Cordain, que escreveu o livro “The Paleo Diet” em 2002.
Depois disso, muitos grupos de Facebook começaram a surgir para compartilhar relatos pessoais sobre a dieta, tornando-a cada vez mais conhecida pelo público leigo, em especial aqueles que desejam emagrecer.
Pensando nisso, muitos indivíduos, atualmente, pregam que a dieta paleolítica é a melhor e “mais saudável”, alegando que nós não evoluímos o suficiente para consumirmos “alimentos modernos” (alimentos frutos da agricultura e domesticação de animais) como os lácteos, os grãos e as leguminosas.
No entanto, tal premissa é totalmente ilógica, começando pelo fato de que, para realmente comermos como na era paleolítica, teríamos primeiro que arrumar uma máquina do tempo, pois os alimentos que temos disponíveis atualmente (in natura ou não) são totalmente diferentes dos alimentos disponíveis antigamente, afinal o solo e clima mudaram.
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Outro ponto importante para entendermos é que não há basicamente nenhum indício de que não estejamos adaptados ao consumo de lácteos e grãos, afinal, adaptação depende também da exposição, e hoje estamos expostos a esses alimentos. Obviamente, algumas regiões consomem mais de um grupo e menos de outro e, a longo prazo, isso interfere na tolerância desses indivíduos a alguns alimentos em específico. Além disso, a própria etnia demonstra alguns tipos de adaptações, como asiáticos digerindo melhor amido e pior a lactose, e europeus nórdicos digerindo melhor a lactose. É válido destacar, também, que há estudos científicos demonstrando que os nossos antepassados consumiam sim alguns tipos de cereais, principalmente na região da Etiópia.
A dieta paleolítica inclui algumas carnes, peixes, frutas, vegetais e algumas sementes, mas exclui lácteos, leguminosas e grãos integrais. A parte positiva é que a dieta paleolítica também exclui alimentos que realmente “não são saudáveis”, como fast foods e alimentos industrializados ricos em açúcar e gordura.
A grande questão é que, atualmente, temos diversos estudos de meta análise de ensaios clínicos randomizados ou estudos prospectivos demonstrando que lácteos, leguminosas e grãos integrais são, na verdade, protetores para risco cardiovascular e outras comorbidades, como diabetes mellitus do tipo 2.
Logo, não há motivo algum para excluir esses grupos alimentares, e sim malefícios.
Os adeptos da dieta paleolítica também alegam que os nossos antepassados não desenvolveram as “doenças crônicas não transmissíveis do mundo ocidental”, que eles tinham “mais saúde” e “viviam mais”… Será que isso faz sentido? A resposta é não!
Primeiro de tudo, é importante se lembrar que, na era paleolítica, a expectativa de vida era muito baixa (22 a 33 anos de idade), logo, obviamente, nem havia tempo suficiente da maioria desses indivíduos desenvolverem doenças que, como o próprio nome diz, são crônicas.
Além disso, como é possível ter certeza que eles não tinham? E será que o padrão de prevalência de doenças não tende a mudar conforme o advento da medicina?
Hoje temos uma evolução na área médica que nem se imaginava ter na era paleolítica. Inclusive, as principais causas de morte em 1900 eram totalmente diferentes das principais causas de morte de hoje em dia, logo, é totalmente esperado que isso mude ao longo dos anos, de acordo com a descoberta de novos fármacos e tratamentos.
Por fim, vale ressaltar que já temos trabalhos científicos demonstrando que, em diversas múmias estudadas (de diversas regiões distintas), havia a presença de placas de ateroma, e isso ocorreu há mais de 4 mil anos. Ou seja, havia sim aterosclerose nos nossos antepassados, culminando em maior chance para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição