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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Entendendo o diabetes

Postado em 15/07/2023 às 11h:00

Se engana quem pensa que o diabetes mellitus é uma doença “rara” ou então “simples” pois, além de possuir diversos subtipos e manifestações clínicas distintas, é uma das patologias mais prevalentes no mundo atual, sendo o Brasil um dos países com maior número de afetados no mundo (ocupando o quarto lugar). O diabetes mellitus pode ser caracterizado como um quadro de hiperglicemia que é causado por algum desses fatores: redução da secreção do hormônio insulina, ou redução da ação da insulina nos tecidos ou então o somatório desses dois fatores.

O diagnóstico é relativamente simples, e leva em consideração tanto sinais e sintomas sugestivos, quanto exames (glicemia, teste de tolerância oral à glicose e hemoglobina glicada). Dentre os sinais e sintomas mais comuns, destaca-se o excesso de urina (poliúria), o excesso de sede (polidipsia), o aumento da fome (polifagia) e, em alguns casos, perda de peso (por conta da insulinopenia, que pode ocorrer). Entretanto, boa parte dos pacientes acaba não tendo nenhum sintoma e, inclusive, muitos indivíduos possuem o diabetes, mas não são diagnosticados.

A medida da glicose no sangue pode tanto ser feita através da glicemia em jejum, ou então através do teste de tolerância oral à glicose (TTOG). No TTOG, o indivíduo – que deve estar em jejum de, pelo menos, 8 horas – irá ingerir 75g de glicose (ou 1,75 g/kg de peso em crianças com até 12 anos) e, após 2 horas, a glicemia será analisada e comparada com a glicemia basal (antes da sobrecarga de glicose).
Se a glicemia estiver maior que 200mg/dL após as 2 horas, esse paciente tem diabetes.
Se estiver maior que 140mg/dL e menor que 200mg/dL, ainda assim o “alerta deve ser ligado”, pois esse paciente pode estar com pré-diabetes.

No caso da mensuração da glicemia em jejum, o paciente pode ter diabetes quando encontrarmos um valor maior ou igual a 126mg/dL, ainda que seja sim preocupante valores acima de 100mg/dL nesse tipo de exame. Ainda pode-se mensurar a glicemia ao acaso (que seria fora do jejum) que, se estiver maior ou igual a 200mg/dL e estiver associada a sintomas do diabetes, já indica que esse paciente provavelmente tem diabetes.

Todavia, é necessário ter em mente que a mensuração da glicemia é como uma “foto”, pois registra apenas o momento em si (é algo agudo) e não o crônico, ou seja, caso não seja seguido todos os passos necessários no pré-exame (como manter a dieta habitual dias antes da coleta), o exame pode acabar sendo inútil. Para isso, o exame de hemoglobina glicada (HbA1c), que é como um “filme”, pois nos mostra se teve ou não quadros de hiperglicemia nos últimos meses, ou seja, indica como foi a glicemia daquele paciente de forma mais crônica.

Quando a HbA1c for igual ou maior que 6,5%, esse indivíduo tem diabetes mellitus. Entretanto, é necessário já ficar atento quando a HbA1c estiver maior ou igual a 5,7%, pois essa pessoa pode estar com pré-diabetes e, em pouco tempo, pode evoluir para diabetes.
Em geral, quase todos os indivíduos maiores de 45 anos deveriam realizar o rastreamento para diabetes, já que o envelhecimento contribui para a redução da sensibilidade à insulina. Ainda, todos os adultos de IMC maior ou igual a 25kg/m2, que tenham pelo menos 1 fator de risco associado (sedentarismo, histórico familiar, hipertensos, etc.), deveriam realizar o rastreamento.

O diabetes mellitus do tipo 1 é o mais raro de todos, e se caracteriza pela deficiência absoluta na produção de insulina. A causa, na grande maioria dos casos, é por um mecanismo autoimune e súbito (a produção de insulina para de forma repentina). Normalmente, o diagnóstico ocorre na infância ou adolescência, com pico de incidência entre 6 e 13 anos de idade.

O quadro clínico é bem característico e súbito, permitindo um diagnóstico bem definido e rápido. A criança provavelmente começará a urinar com muita frequência, a sentir muita sede e a perder peso. O cuidado deve ser grande pois, caso não ocorra uma intervenção rapidamente, o indivíduo pode evoluir para um quadro de cetoacidose diabética, que é a produção de corpos cetônicos em um quadro de hiperglicemia, podendo levar ao coma e até à morte.

O diabetes mellitus do tipo 2, por outro lado, tem forte predisposição genética e sofre muita influência do estilo de vida do indivíduo. Normalmente, o defeito na secreção e/ou ação da insulina ocorre devido ao ganho expressivo de peso, que acarreta um quadro de resistência à insulina e, consequentemente, hiperglicemias. Caso esse indivíduo com diabetes tipo 2 não venha a mudar seu estilo de vida, a chance de culminar em uma falência do pâncreas é grande.
Dessa forma, infelizmente, essa pessoa passará a depender do uso de insulina exógena e controle fino da dieta.

Leia também: Entenda sobre a resistência à insulina

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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