Espironolactona no tratamento da acne
Postado em 04/09/2025 às 08h:50
A acne é uma condição multifatorial que pode gerar impacto físico e psicológico significativo em pacientes de diferentes faixas etárias. Para o profissional de saúde, sobretudo médicos e dermatologistas, a escolha terapêutica envolve equilibrar eficácia, segurança e adesão. Nesse contexto, a espironolactona no tratamento da acne vem ganhando espaço como alternativa importante, especialmente em mulheres com quadros persistentes ou resistentes a outros tratamentos.
Por que considerar a espironolactona no tratamento da acne?
A espironolactona é um antagonista competitivo dos receptores de aldosterona, mas também exerce efeito antiandrogênico, bloqueando parcialmente os receptores de andrógenos e inibindo a produção de testosterona nas glândulas suprarrenais e ovarianas.
Essa ação é crucial no tratamento da acne, uma vez que o aumento da atividade androgênica está diretamente relacionado à hipersecreção sebácea e à inflamação folicular — dois mecanismos centrais no desenvolvimento da doença.
Evidências científicas
Estudos clínicos demonstram que a espironolactona pode reduzir significativamente as lesões acneicas, sobretudo em mulheres adultas. Uma revisão sistemática publicada no Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD, 2017) mostrou que doses de 50 a 200 mg/dia são eficazes na melhora de acne moderada a grave, com resposta clínica visível a partir de 8 a 12 semanas.
Além disso, evidências indicam que a espironolactona pode ser utilizada como terapia de manutenção em longo prazo, com menor risco de recidiva em comparação ao uso isolado de antibióticos tópicos ou orais.
Dores e desafios para o profissional de saúde
Apesar do potencial terapêutico, alguns pontos ainda geram insegurança entre profissionais:
- Indicação correta: A droga é indicada principalmente para acne feminina. Seu uso em homens é restrito devido ao risco de efeitos colaterais como ginecomastia e disfunção erétil.
- Segurança em longo prazo: Há receio em relação a alterações eletrolíticas, especialmente hipercalemia, embora estudos mostrem que em mulheres jovens e saudáveis esse risco seja baixo.
- Monitoramento laboratorial: Muitos profissionais se questionam sobre a necessidade e frequência do controle de potássio e função renal. Evidências sugerem que em mulheres sem comorbidades o monitoramento intensivo pode não ser necessário, mas deve ser individualizado.
- Efeitos adversos: Tontura, irregularidade menstrual e sensibilidade mamária são queixas comuns que podem comprometer a adesão.
- Interações medicamentosas: O uso concomitante com outros poupadores de potássio ou anticoncepcionais contendo drospirenona requer atenção redobrada.
Estratégias práticas de manejo
- Avaliar histórico clínico e possíveis contraindicações (insuficiência renal, hiperpotassemia, gravidez).
- Iniciar com doses baixas (25-50 mg/dia) e ajustar conforme resposta e tolerância.
- Associar a anticoncepcionais combinados em pacientes que desejam maior controle do ciclo menstrual ou quando há risco de gestação.
- Orientar sobre tempo de resposta: resultados mais consistentes ocorrem após 3 a 6 meses de tratamento.
- Reforçar o acompanhamento psicológico quando a acne impacta a autoestima, integrando uma abordagem multiprofissional.
Conclusão
A espironolactona representa uma ferramenta valiosa no arsenal terapêutico contra a acne, especialmente em mulheres adultas com quadros persistentes. Para o profissional de saúde, o maior desafio não está apenas em prescrever, mas em manejar corretamente o uso da medicação, equilibrando eficácia e segurança, além de alinhar expectativas com a paciente.
A prática baseada em evidências é o caminho para reduzir inseguranças e ampliar a confiança clínica, tornando o tratamento mais assertivo e humanizado.
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