Estratégias para prescrever a Dieta DASH em diferentes pacientes
Postado em 22/10/2025 às 08h:35
A Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) foi inicialmente desenvolvida para o controle da hipertensão arterial, mas ao longo dos anos consolidou-se como um modelo alimentar com benefícios metabólicos amplos – incluindo melhora no perfil lipídico, na sensibilidade à insulina e na inflamação sistêmica.
Na prática clínica, compreender como adaptar suas diretrizes a diferentes perfis de pacientes é fundamental para garantir adesão, resultados e individualização da conduta nutricional.
1. Fundamentos da Dieta DASH
A base da Dieta DASH está no aumento do consumo de alimentos in natura e minimamente processados, com ênfase em frutas, vegetais, cereais integrais, laticínios com baixo teor de gordura, leguminosas, oleaginosas e fontes magras de proteína.
Simultaneamente, há restrição de sódio, açúcares adicionados, carnes processadas e gorduras saturadas.
Em média, os planos DASH clássicos variam entre 1.500 a 2.300 mg de sódio/dia, distribuindo macronutrientes em torno de 55–60% de carboidratos, 15–20% de proteínas e 25–30% de lipídios, com prioridade a fontes de ácidos graxos mono e poli-insaturados.
2. Estratégias para diferentes perfis de pacientes
a) Pacientes com hipertensão arterial
A principal estratégia envolve o controle rigoroso do sódio e a adequação do potássio, magnésio e cálcio — micronutrientes com efeito direto sobre a vasodilatação e o equilíbrio pressórico.
Recomenda-se o incentivo ao consumo de hortaliças, frutas frescas, leguminosas e oleaginosas, reduzindo o uso de temperos industrializados.
Para pacientes com baixa adesão, pode-se iniciar uma abordagem progressiva, reduzindo o sódio gradualmente e substituindo fontes proteicas processadas por opções frescas.
b) Pacientes com resistência à insulina e síndrome metabólica
Nesse grupo, é indicado ajustar o padrão DASH para controle glicêmico, priorizando carboidratos de baixo índice glicêmico e incluindo fontes de fibra solúvel, como aveia, feijões e sementes.
A moderação da carga glicêmica total — sem descaracterizar o modelo DASH — pode favorecer melhora na sensibilidade à insulina e na composição corporal.
c) Pacientes com dislipidemia
O foco deve recair sobre a qualidade das gorduras, estimulando o uso de azeite de oliva, peixes ricos em ômega-3 e oleaginosas, enquanto se restringem gorduras trans e saturadas.
A combinação da DASH com princípios da dieta mediterrânea tem mostrado resultados sinérgicos na redução do LDL-c e na melhora do HDL-c.
d) Pacientes com doença renal leve a moderada
Embora a dieta DASH seja rica em potássio e fósforo, é possível ajustar suas proporções mediante avaliação laboratorial.
O nutricionista deve moderar o consumo de laticínios e leguminosas, priorizando fontes de proteína vegetal e mantendo o controle de sódio.
A orientação nutricional deve sempre ser individualizada conforme a taxa de filtração glomerular (TFG).
e) Pacientes vegetarianos ou com restrição proteica
A Dieta DASH é facilmente adaptável a versões vegetarianas ou com menor teor proteico, mantendo sua base vegetal e o equilíbrio de micronutrientes.
Substituir proteínas animais por leguminosas, tofu, grãos e sementes garante boa densidade nutricional sem comprometer o efeito anti-hipertensivo.
3. Fatores de adesão e comportamento alimentar
A efetividade da Dieta DASH depende da adesão a longo prazo. Estratégias como o uso de diários alimentares, orientações culinárias práticas e educação nutricional em grupo têm se mostrado úteis.
Além disso, adaptar o plano alimentar à realidade socioeconômica e cultural do paciente aumenta o sucesso terapêutico — substituindo alimentos menos acessíveis por equivalentes regionais com perfil nutricional semelhante.
4. Conclusão
A prescrição da Dieta DASH deve ir além da simples restrição de sódio: trata-se de uma abordagem nutricional completa, que integra qualidade alimentar, densidade nutricional e modulação metabólica.
Com as devidas adaptações, é possível aplicar o modelo DASH em múltiplos contextos clínicos, promovendo saúde cardiovascular e metabólica de forma segura, baseada em evidências e centrada no paciente.
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