Exercício físico e função gastrointestinal
Postado em 16/06/2025 às 16h:30
Sabe-se que exercícios realizados com até 70% do consumo máximo de oxigênio (VO₂máx) geralmente não interferem significativamente na função gastrointestinal. No entanto, isso não significa que uma pessoa possa sair correndo logo após uma refeição volumosa. Esse comportamento aumenta a atividade do sistema nervoso simpático e reduz a do parassimpático, o que pode inibir temporariamente o funcionamento do sistema gastrointestinal.
Nesses casos, a resposta do organismo dependerá da localização do alimento no trato digestivo e do tipo e intensidade do exercício realizado. Se o alimento ainda estiver no estômago — ou seja, se a refeição foi recente — e a pessoa iniciar uma corrida a 85% do VO₂máx, é provável que ocorra uma interrupção do esvaziamento gástrico. O alimento tende a se acumular na porção inferior do estômago, distendendo suas paredes e desencadeando um reflexo que pode culminar em vômito.
Entretanto, se esse alimento já estiver no intestino, aí dependerá da movimentação vigorosa do tronco. Ou seja, se o indivíduo estiver fazendo um exercício que não envolva grandes movimentos do tronco, isso não será um grande problema.
De maneira oposta, caso o exercício envolva movimentação vigorosa do tronco, o indivíduo poderá propelir o alimento por meio dessa movimentação, mesmo com o intestino inativo. Mas vale lembrar que esse efeito é tempo-dependente, ocorrendo, em geral, após cerca de 1 hora de exercício físico.
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Outro ponto importante a mencionar é a possibilidade de ocorrência da chamada “diarreia de maratonista”, em que o alimento vai sendo propelido, até que chega no final do intestino e irá sair “de qualquer jeito”.
Essa eliminação fecal será diarreica pois há uma diminuição de fluxo sanguíneo esplâncnico, então a absorção está ruim e a motilidade está ruim, então o alimento chega até o final com baixíssima absorção. Para resolver esse tipo de contratempo, é necessário acertar o tipo de alimentação pré-prova e o horário de alimentação conforme a prova. Vale destacar que nós podemos sim treinar o sistema gastrointestinal de forma que ele se adapte a esse tipo de situação, mas isso leva tempo.
Todavia, tudo isso é agudo (ocorre apenas durante o exercício físico), pois sabemos que o exercício promove adaptações gastrointestinais, como melhora do sistema ao longo do tempo de treinamento, já que o treinamento aumenta a atividade parassimpática e diminui a simpática. Logo, aplicando isso no sistema gastrointestinal, percebo que ocorre aumento da motilidade gastrointestinal com o treinamento, além de maior irrigação tecidual para o local.
O treinamento também faz aumento da secreção de muco, que aumenta a ação antiulcerogênica, pois protege mais a parede do estômago contra a ação de ácidos. A úlcera gástrica tem um componente orgânico, mas também tem componente psicossomático, pois pessoas mais estressadas têm tendência à ulceração maior que outras. Por fim, vale lembrar que o exercício físico diminui/tem capacidade de agir como um modulador do estresse.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição