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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Existe obesidade saudável?

Postado em 21/11/2023 às 08h:00

A obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, não é causada por um único fator, e sim a soma de vários deles. Alguns indivíduos podem ser mais suscetíveis ao fator genético, enquanto outros são mais suscetíveis aos fatores ambientais.

A obesidade monogênica – provocada por genes obesogênicos – ocorre em apenas 2% dos indivíduos, ou seja, é muito incomum. Esse tipo de obesidade consiste no fato de existir genes específicos se expressando de maneira berrante e levando o indivíduo à obesidade (como a síndrome de Cushing, a Prader-Willi, a MCR4, a deficiência do receptor de Leptina etc.). Ou seja, são condições especificas que levam à obesidade, e esse indivíduo já nasce obeso e vai piorando.

A predisposição genética (por genes hereditários, ocorre em 40% a 70% dos obesos), por outro lado, trata-se de um polimorfismo de nucleotídeos únicos, ou seja, há um conjunto de genes que, quando estiverem sendo pressionados pelo ambiente, tendem a levar o indivíduo a expressar a obesidade.
A “plasticidade genética” são mutações que ocorrem aleatoriamente para lidar com as incertezas do ambiente. O ambiente com alta disponibilidade de alimentos calóricos e palatáveis, somado a uma redução do gasto energético, é o gatilho para que alguns genes (suscetíveis a esse gatilho) se expressem e alterem o fenótipo.

Quando pensamos em desenvolvimento de obesidade, o que mais reduz, na verdade, é o gasto energético não relacionado ao exercício físico (NEAT). Por mais que o número de pessoas que fazem exercício programado tenha aumentado nos últimos anos, o problema é que atualmente as pessoas ficam mais sentadas, assistindo TV, ficam no computador, andam de carro, etc.
Ainda assim, a principal causa para o desenvolvimento da obesidade é o aumento no consumo calórico frente ao gasto calórico, mas isso envolve muitas coisas, tem muitas  causas e influências.

Outro ponto importante de destacar é que, mesmo praticando exercício físico e fazendo dieta, ocorre perda de peso interessante no primeiro ano, porém depois há uma tendência de reganho de peso nos próximos 5 anos. Logo, o que realmente importa é o gerenciamento da manutenção do peso perdido. Vale ressaltar que a cirurgia bariátrica é a que menos apresenta recidiva na obesidade, é o mais efetivo não só pelo emagrecimento, mas pela prevenção de doenças cardiometabólicas associadas ao peso elevado (ela aumenta longevidade), mas é um método mais agressivo.

Alguns indivíduos relatam pertencerem ao grupo dos “obesos metabolicamente saudáveis”, pois afirmam que seus exames de sangue não vieram alterados. No entanto, devemos ter muito cuidado com essa conclusão, pois nem sempre é a realidade. É importante entender que nem sempre o exame de PCR (que mensura o grau de inflamação do organismo no momento) estará alterado, pois a obesidade é um processo inflamatório crônico de baixo grau, e às vezes isso não pode ser captado em um exame de sangue.

O sangue é um “transportador”, ele PODE refletir alterações que estão ocorrendo em alguns tecidos, mas boa parte desses agentes inflamatórios estão em tecidos específicos. Ou seja, pode ser que ainda não tenha sido expressivo o suficiente para aparecer no sangue. Além disso, tem também a questão da sensibilidade própria dos métodos de análise dos exames, que pode não ser a ideal/melhor. Infelizmente, esse resultado adequado nos exames é apenas algo provisório, pois mais tarde muito provavelmente surgirão os problemas de saúde relacionados à obesidade.

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Por fim, vale ressaltar que, quanto mais adipócitos criamos e hipertrofiam, mais difícil vai ficando para evitar o reganho futuramente. Isso ocorre, pois, os adipócitos não “morrem”, eles apenas reduzem de tamanho. Um indivíduo com obesidade pode chegar a 125 bilhões de células adiposas. Na adolescência e na infância você gera mais adipócitos para facilitar que futuramente você tenha mais opções de reserva/local para realocar essa gordura, um jovem adulto consegue ter uma dinâmica de armazenamento e reciclagem maior.

Dessa forma, a prevenção do ganho de peso excessivo deve começar na infância, incentivando uma alimentação saudável e equilibrada, além da prática regular de exercícios físicos.

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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