Existe suplemento para controlar a glicemia?
Postado em 20/05/2024 às 14h:54
Antes de falarmos dos suplementos disponíveis, é importante entendermos sobre o que é a glicemia. A glicemia nada mais é do que a quantidade de glicose (também chamada popularmente de “açúcar”) presente no sangue em um determinado momento. A glicose é uma fonte primária de energia para o nosso corpo e é obtida a partir dos alimentos que consumimos, especialmente aqueles ricos em carboidratos (ainda que gorduras e proteínas também possam elevar a glicose no sangue, ao contrário do que muitos pensam).
Quando nos alimentamos, os alimentos são digeridos (degradados pelo trato digestivo) e acabam liberando glicose na corrente sanguínea (além de, muitas vezes, ácidos graxos e aminoácidos). O corpo então usa essa glicose como fonte de energia para realizar todas as suas funções, desde atividades físicas (como a contração do músculo ao realizar um exercício físico) até processos metabólicos essenciais.
No entanto, é essencial que essa glicose esteja presente em níveis adequados no sangue (níveis dentro da normalidade). Se os níveis de glicose estiverem muito baixos, pode ocorrer um quadro de hipoglicemia, o que pode levar a sintomas como fraqueza, tontura e até desmaios. Por outro lado, se os níveis de glicose estiverem muito altos, pode ocorrer a hiperglicemia, o que é comum em pessoas com diabetes e pode causar complicações sérias se não for controlada.
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Por isso, é fundamental manter um equilíbrio saudável nos níveis de glicose no sangue, o que pode ser alcançado através de uma dieta balanceada, prática regular de atividade física e, em alguns casos, medicação adequada, especialmente para pessoas com diabetes. Mas e a suplementação para esse fim? Será que existe? Leia esse texto até o final para descobrir tudo sobre esse tema.
Primeiramente, ao falarmos de controle da glicemia, precisaremos analisar dois marcadores: a glicose (para isso, posso fazer o teste de glicemia em jejum, faço o teste de tolerância à glicose e faço teste de hemoglobina glicada) e a insulina (podemos dosar esse hormônio e fazer a curva insulinêmica). Em pacientes com excesso de peso e/ou em quadros inflamatórios significativos, a insulina não consegue agir corretamente com o seu receptor celular, o que aumenta a resistência ao hormônio (piora da sensibilidade à insulina), prejudicando o controle da glicemia e, a longo prazo, pode virar uma diabetes mellitus do tipo 2.
Dito isso, o que mais influencia na resposta glicêmica é o aporte calórico da dieta (o total de calorias consumidas frente ao gasto calórico total). Dietas com excesso calórico são associadas com piora na resposta glicêmica (ocorre diminuição da sensibilidade à insulina, o que pode ser mais ou menos expressivo a depender de quem é o indivíduo, dos alimentos que ele consome e do nível de treinamento).
Pensando nisso, podemos usar suplementos que diminuam a carga glicêmica da refeição, ou que diminuam então a absorção de carboidrato, que retardam o esvaziamento gástrico, que aumentem a sensibilidade à insulina, que reduzam a inflamação, que aumentam a produção de substâncias que melhoram a sensibilidade à insulina, ou então substâncias que possam aumentar a saciedade.
Com o fim de redução da absorção, há alguns suplementos que podem agir inibindo a enzima alfa- amilase, o que diminui a digestão e absorção do amido ingerido, fazendo com que o impacto glicêmico e calórico da refeição seja menor. Um exemplo de suplemento com essa ação seria a faseolamina.
Outro cenário importante é o que envolve a colecistoquinina (CCK), que é um hormônio que tem relação direta com a digestão de alimentos e com a saciedade, já que age no estômago retardando o esvaziamento gástrico (ela aumenta a contração do esfíncter pilórico, impedindo o refluxo gastro duodenal). Posso ter, então, algum suplemento que aumenta os níveis de CCK e, por isso, ajude a diminuir o impacto glicêmico e aumentar a saciedade.
Ademais, há suplementos que podem auxiliar no controle da glicemia ao agirem no controle da ingestão calórica (mais especificamente, na fome e na saciedade). No núcleo arqueado temos os neurotransmissores POMC e CART, que agem diminuindo o consumo (anorexígenos), e os neurotransmissores NPY e AgRP, que aumentam a ingestão (orexígenos). A CCK, por exemplo, pode agir estimulando a via da POMC/CART. A insulina e a leptina também agem estimulando POMC/CART, mas vale lembrar que pacientes com obesidade se encontram resistentes à insulina, logo, essa sinalização da leptina no hipotálamo acaba não ocorrendo de forma expressiva.
Além disso, nós podemos, através da dieta (como usando fibras), estimular um aumento de GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon 1) ou então aumentar a ativação do receptor dele. Esse GLP-1 é uma incretina (substância produzida pelo pâncreas e intestinos, que regula o metabolismo da glicose, assim como a insulina, glucagon, amilina etc.). Ele é sintetizado centralmente pelos neurônios do tronco cerebral (NTS) ou perifericamente pelas células L intestinais agindo de forma aumentando a liberação de insulina, diminuindo a glicemia e evitando a glicação. Também age, a nível estomacal, retardando o esvaziamento gástrico, o que também provoca um efeito sacietogênico.
O GLP-1 também tem um efeito anorexígeno, pode estimular diretamente na POMC e inibir indiretamente NPY/AgRP. Logo, todo o composto que possa aumentar a produção de GLP-1 ou aumentar a ativação do receptor de GLP-1, tem esses efeitos benéficos como diminuir glicemia, aumentar saciedade, diminuir a ingestão calórica.
Os fármacos Liraglutida e Semaglutida são usados no tratamento da diabetes mellitus tipo 2 e obesidade, pois esses são análogos de GLP-1, têm efeito semelhante, ou seja, ativam o mesmo receptor.
Em geral, os agonistas de GLP-1 têm diversos efeitos, podem agir a nível cerebral aumentando a saciedade e aumentando o gasto energético, agem no trato gastrointestinal diminuindo o esvaziamento gástrico e a motilidade, agem no pâncreas aumentando a secreção de insulina e sobrevivência e proliferação de células beta-pancreáticas etc.
Por fim, também podemos agir no controle da glicemia através da atenuação da via inflamatória.
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Pacientes com obesidade têm maior chance de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, e uma das hipóteses para tal é a inflamação. O tecido adiposo produz adipocinas que aumentam a inflamação e diminuem a sensibilidade à insulina. Essas citocinas pró-inflamatórias podem agir no adiposo aumentando a ativação do receptor Toll-Like 4, o que aumenta a resistência à insulina e diminui a diferenciação lipogênica (causa disfunção endócrina). Podem agir também no músculo, aumentando resistência à insulina por aumento da produção de ceramidas e DAG. Podem agir a nível pancreático, prejudicando o funcionamento das células beta e a regeneração delas e também a nível hepático, aumentando a secreção de triglicerídeos hepáticos, o que reduz a supressão da produção de glicose pelo fígado e, consequentemente, aumenta gliconeogênese, o que impacta negativamente no perfil glicêmico – ou seja, a inflamação piora, como um todo, a resposta glicêmica.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição
Revisão: Talita Szidlovski