Existe suplemento para melhorar o perfil lipídico? | Uniguaçu Existe suplemento para melhorar o perfil lipídico? | Uniguaçu

Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Existe suplemento para melhorar o perfil lipídico?

Postado em 18/05/2024 às 09h:00

Primeiramente, ao falarmos de perfil lipídico, precisaremos abordar algumas grandezas importantes, como valores de triglicerídeos, de HDL (que deveria estar acima de 40mg/dL), de LDL (que deveria estar abaixo de 130mg/dL), de colesterol total (que deveria estar abaixo de 190mg/dL) e de VLDL. A Apolipoproteína B (deve estar inferior a 150-160mg/dL) e a Apolipoproteína A1 (deve estar inferior a 190-220mg/dL) também têm certa relação com o aumento do risco de doenças cardiovasculares.

Logo, quando pensamos em suplementos e fitoterápicos voltados para a melhora do perfil lipídico, o objetivo é manter esses marcadores dentro dos níveis de referências atuais que temos atualmente. No entanto, devemos ter em mente que, por mais que os suplementos não tenham o mesmo efeito que uma dieta saudável de forma crônica e/ou fármacos específicos, ainda assim eles podem, em alguns casos e contextos, ajudar na melhora de perfil lipídico e de outras questões de saúde (quando bem indicados). Todavia, isoladamente, a suplementação e a fitoterapia não fazem milagre.

Quanto aos triglicerídeos, precisamos destacar que esses são lipídios simples, compostos por três ácidos graxos e um glicerol. São os mais predominantes no nosso corpo e, também, nos alimentos ricos em gordura. Mas além de consumir pela dieta, nós podemos sintetizar triglicerídeos endogenamente (dentro do nosso próprio corpo), através de carboidratos e de proteínas! Para formamos os ácidos graxos dos triglicerídeos precisaremos quebrar o Citrato, pela enzima citrato- liase (que é estimulada pela insulina), que virará Acetil-CoA, o qual sofrerá ação da enzima acetil-coa carboxilase e virará Malonil-CoA, que poderá sofrer ação da enzima ácido graxo sintase e virará Palmitoil-CoA (um ácido graxo).

Mas, para formar o triacilglicerol, precisaremos de uma molécula de Glicerol-Fosfato. Esse glicerolP sofrerá ação da enzima glicerol-3-fosfato aciltransferase, virará ácido lisofosfatídico, que sofrerá ação da enzima aciltransferase dele e virará ácido fosfatídico. Esse último sofrerá ação da enzima ácido fosfatídico fosfatase (retira fosfato) e virará diacilglicerol (DAG), que sofrerá ação da DAG- aciltransferase e virará triacilglicerol. Logo, se eu puder usar algum suplemento ou fitoterápico que talvez reduza a ação de alguma dessas enzimas, talvez eu possa também reduzir a formação de triacilglicerol, auxiliando no controle dos níveis de triglicerídeos (abaixo de 150mg/dL).

Além disso, é necessário entendermos que um dos principais fatores que interferem no perfil lipídico é a DIETA, pois o aporte calórico da dieta poderá influenciar diretamente no perfil lipídico.
Uma dieta mais hipercalórica (com calorias excedentes), rica em gordura saturada e carboidratos refinados (com alto índice e carga glicêmica), irá provavelmente piorar o perfil lipídico (principalmente os níveis de triglicerídeos).
Uma refeição que causa mais impacto glicêmico, que eleva mais a glicemia e a insulina, em teoria eu posso favorecer a via da formação de ácido graxo.

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Ainda que seja necessário pensar em todo o contexto (quanto de carboidrato está sendo fornecido, qual o tipo de carboidrato, qual a quantidade calórica da dieta etc.).
Lembrando que o índice glicêmico (IG) é um marcador que mede em quanto tempo, e o quão expressivamente, a nossa glicemia aumenta em resposta ao consumo de determinado alimento (normalmente compara-se com o pão branco ou a glicose).

Um alimento de alto IG aumenta a glicemia de forma rápida e, consequentemente, aumenta de forma aguda os níveis de insulina. A carga glicêmica (CG = IG do alimento x quantidade de carboidrato por porção de 100g do alimento, dividido por 100) leva em consideração o IG do alimento e a quantidade de carboidrato dele, ou seja, é mais fidedigna para falar sobre a resposta glicêmica que teremos (já que podemos ter um alimento de alto IG, porém baixa quantidade de carboidrato em 100g, impactando pouco na glicemia). Um alimento é de alta CG será acima ou igual a 20, moderada será de 11 a 19 e baixa será menor que 10.

Alguns estudos associam consumo de alimentos de baixo IG e redução de triglicerídeos, mas geralmente são estudos altos em vieses, já que normalmente alimentos de baixo IG têm também alta quantidade de FIBRAS, Ou seja, o que temos que realmente considerar é a quantidade de carboidrato do alimento por porção, e a quantidade de fibras que ele tem.
Logo, IG não é um bom marcador de redução de perfil lipídico. Além disso, vale destacar que um mesmo alimento pode acarretar impactos glicêmicos diferentes em diferentes pessoas e, além disso, o método de preparo desse alimento também influencia no IG do alimento e, consequentemente, no impacto glicêmico.

Podemos, então, talvez, incluir alguns suplementos e fitoterápicos que possam diminuir o impacto glicêmico da refeição, ou então diminuir a absorção de carboidratos e gorduras, ou diminuir a síntese de ácidos graxos/triglicerídeos. Também podemos utilizar compostos ricos em fibras (como o psyllium), o que auxilia também na redução de triglicerídeos.

Continuando os tipos de lipídios, há também o colesterol, que é um lipídio derivado, faz parte das membranas celulares, faz síntese de sais biliares e de vitamina D, e é precursor dos hormônios esteroides. Pode ser produzido endogenamente (principal responsável pela manutenção dos níveis de colesterol plasmático, logo, poderíamos modular isso), além de também ser ingerido pela dieta. Sua síntese começa a partir do acetil-coa, que pode vir de carboidratos, proteínas e gorduras.

Em excesso, todos os macronutrientes podem influenciar no aumento da síntese de colesterol. O acetil- coa se converte em HMG-coa, que sofre ação da HMG-coa redutase e vira mevalonato, e é aqui que vários medicamentos agem (inibindo a ação da HMG-coa redutase, diminuindo formação de mevalonato e diminuindo níveis endógenos de colesterol; exemplo: estatinas, mas alguns fitoterápicos poderiam também atuar aqui).

Além disso, a insulina favorece a ativação dessa enzima e, dessa forma, pode prejudicar os níveis de colesterol do paciente. Em dieta hipercalórica, normalmente o consumo de colesterol irá aumentar. Por mais que tenhamos o controle da produção endógena de colesterol, normalmente consumimos colesterol de fontes animais, o que aumenta também a produção endógena (pois consumirei mais substratos que são usados para a síntese de colesterol, pois terei mais acetil-coa sendo formado, já que haverá maior consumo de gorduras e proteínas também).

Uma dieta com restrição calórica, por outro lado, é relacionada com a melhora do perfil lipídico. Vale lembrar que o tipo de gordura consumida também influencia muito nos níveis de colesterol (as saturadas e trans geram repercussões piores), além do tipo de carboidrato também (refinados são piores).

Há também as lipoproteínas, que são lipídios compostos que transportam a gordura pelo sangue, os quais medimos em exames de perfil lipídico.
A HDL (remove o excesso de colesterol e leva para o fígado, onde poderá ser usado para a síntese de sais biliares) é a lipoproteína de alta densidade, a LDL (transporta colesterol do fígado para os tecidos extra-hepáticos) é de baixa, a VLDL é de muito baixa e os quilomícrons (Qm) são menores e menos densos.

Todas elas contêm principalmente colesterol, mas o Qm e o VLDL contêm principalmente triglicerídeos. Há correlação direta dos níveis de VLDL (transporta os triglicerídeos sintetizados no fígado) com os valores de triglicerídeos (o valor de triglicerídeos tende a ser de 3 até 4x maior que os de VLDL).

Na superfície da LDL há a Apolipoproteína B100 (sintetizada no fígado, faz parte das frações mais aterogênicas), e na do HDL há a Apo A-1 (menos aterogênica). E podemos também fazer a análise do perfil lipídico através dessas Apolipoproteínas, pois elas agem como receptores tanto na molécula de LDL quanto na de HDL, a função delas é justamente permitir a ligação das lipoproteínas na célula.

Por fim, há também o LDL, que é dividido em três principais partículas/frações, grande, média e pequena (essa é a fração mais aterogênica, tem maior capacidade de penetrar na parede arterial e formar placa aterosclerótica). Mas, lembrando, isso não quer dizer que o nível de LDL total não importa, pois importa (e muito). Nos exames laboratoriais, inclusive, não há essa distinção entre frações de LDL, quem faz essa diferenciação são os estudos científicos.

Texto por: Pietra Fogaça – Nutricionista
Revisão: Talita Szidlovski

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