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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Nutrição e imunodeficiências

Postado em 23/03/2024 às 09h:00

Primeiramente é importante entendermos o que, de fato, são as “imunodeficiências”. Imunodeficiências são doenças caracterizadas pela ausência ou mau funcionamento de elementos do sistema imune.
Por causa das possíveis causas, as imunodeficiências são divididas em 2 grandes grupos: Genéticas/hereditárias (autossômicas dominantes e recessivas, ligadas ao X, malformações, mutações) e adquiridas (desnutrição, infecções, terapias radioativa e imunossupressora, abuso de drogas – alcoolismo, transfusões, câncer, vírus HIV). Vale ressaltar, no entanto, que a desnutrição é a causa mais comum de imunodeficiência.

A conexão entre nutrição e imunidade, especialmente na incidência de infecções e tumores, é conhecida desde a antiguidade. Ademais, segundo Scrimshaw (1968), “muitas das importantes infecções das populações humanas tornam-se mais severas quando há desnutrição e muitas infecções isoladamente causam alterações nutricionais”. Um grande exemplo foi o caso em que se observou uma diminuição da mortalidade infantil por sarampo e diarreia em uma aldeia da Guatemala justamente após a suplementação alimentar com farinha de peixe.

Além disso, é sabido que indivíduos desnutridos apresentam com maior frequência diversas condições patológicas, como infecções, atrofia do timo, reativação de infecções virais, diarreia e anemia, doenças autoimunes e parasitárias, câncer, infecções recorrentes, principalmente as do trato respiratório, gastrointestinal e urinário etc. Ainda, é visto também pior prognóstico frente inúmeras patologias e em cirurgias gerais e gastrointestinais.

O paciente desnutrido irá normalmente apresentar uma redução da imunidade celular e na produção de anticorpos, alterações nos linfócitos T, alterações no metabolismo das citocinas (redução de IL 1, 6 e 8; que têm capacidade imuno reguladora), prejuízo na produção e na atividade funcional de componentes do sistema complemento, rompimento das barreiras epitelial e mucosa (podendo ocorrer translocação bacteriana).

Vale destacar que os tecidos linfoides são extremamente vulneráveis aos efeitos da desnutrição. A gravidade dos distúrbios gerados é medida pelas taxas de proliferação celular, a quantidade e a taxa de síntese proteica e o papel dos nutrientes individuais nas vias metabólicas específicas. Zinco, ferro e vitamina B6 estão entre os micronutrientes essenciais para o tecido linfoide. Um dos resultados da desnutrição é a atrofia linfoide. Em crianças o timo é um “termômetro” da desnutrição, e a diminuição acentuada do tamanho e do peso é chamada de “timectomia desnutricional”. No timo de pacientes desnutridos existem poucas células linfoides e a estrutura histológica é parcialmente perdida. Encontra-se também atrofia em órgãos linfoides secundários.

Ainda falando sobre a desnutrição e o sistema imunológico, é sabido que há diversas carências nutricionais associadas a essa condição. Há as carências nutricionais específicas (como no caso da arginina e da glutamina), de nucleotídeos, de aminoácidos, de ácidos graxos (ômega 3), de oligoelementos (zinco, selênio, cobre e ferro) e de vitaminas (A, E, C, D e B6).

É importante também entender que a manutenção do sistema imunológico requer um consumo constante de todas as vitaminas e minerais necessários. Para isso, é necessário seguir uma dieta equilibrada que inclua variedade de alimentos nas quantidades adequadas. Normalmente as deficiências nutricionais (como ocorre demasiadamente na desnutrição) estão associadas a diminuição de respostas imunes. Os aspectos mais afetados pela desnutrição são a imunidade mediada por células, os fagócitos, o sistema complemento, os anticorpos secretores e a produção de citocinas. A presença de desnutrição pode estar associada com uma série de distúrbios sistêmicos primários, como o câncer, queimaduras, traumatismos e também infecções crônicas.

No caso da desnutrição proteico-calórica, o que ocorre é uma redução na atividade de linfócitos T auxiliares (principalmente o CD4+). Há uma consequente redução no auxílio aos linfócitos B, aumento do número de linfócitos T imaturos circulantes, resposta por IgA para antígenos vacinais comuns diminuída, diminuição da fagocitose (que impactará diretamente na opsonização reduzida pela diminuição da produção de proteínas do sistema complemento). Além disso, a produção de citocinas também pode ser reduzida, e a imunidade inata também pode ser afetada (menor produção de lisozima).

Quanto aos nutrientes específicos e a resposta imune, é imprescindível que o nutricionista saiba que o Zinco é essencial principalmente para a função de linfócitos T auxiliares. Além disso, é importante saber que o ferro é essencial para várias funções de linfócitos e fagócitos, sendo sua deficiência relacionada a diminuição da capacidade de destruição de bactérias e fungos por neutrófilos e resposta reduzida de linfócitos a antígenos. Está presente no fígado, carnes, pescado, ovo e, em menor proporção nos laticínios. Outro aspecto importante de se ter conhecimento é o fato de que a deficiência de vitamina B6 e folato reduzem a imunidade mediada por células, especialmente a proliferação de linfócitos.

Por fim, saiba que as vitaminas antioxidantes são imunomoduladoras, elas melhoram a função de células T e da imunidade mediada por células, aumentam a produção de anticorpos, de citocinas pró-inflamatórias e a função fagocítica de macrófagos. A vitamina C contribui na manutenção das barreiras naturais contra as infecções aumentando a produção de interferon, potencializando a imunidade. Ela pode ser encontrada em alimentos como o kiwi, manga, abacaxi, caqui, cítricos, melão, morangos, pimentão, tomate, verduras da família da couve, frutas e hortaliças em geral. Fortifica a atividade imunológica dos leucócitos, aumenta a produção das células de defesa e a resistência do organismo.

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A vitamina E aumenta a resposta imunológica e a sua deficiência resulta em redução do poder bactericida de leucócitos e linfócitos, menor produção de imunoglobulinas, redução da resposta imune mediada por células, menor produção e funcionamento de citocinas. Ela participa na formação dos glóbulos vermelhos, age como antioxidante e protege as membranas celulares.

A vitamina A exerce papel essencial nas infecções e na manutenção da integridade da superfície das mucosas (barreiras naturais contra as infecções), e a deficiência de vitamina A está associada ao aumento da susceptibilidade a infecções. Essa vitamina pode ser encontrada no fígado, na manteiga, no creme de leite, em ovos e laticínios de leite integral etc.

Concluindo, quanto ao zinco, a sua carência influi no sistema imunológico e afeta fundamentalmente os órgãos linfoides (que produzem linfócitos) e a resposta imunológica. A deficiência de Zinco resulta em extensivo dano aos linfócitos T, com atrofia do timo, alteração da síntese de linfócitos, resultando em marcada imunossupressão. Neutraliza os radicais livres, retarda o envelhecimento e combate o processo cancerígeno. Ele pode ser encontrado em frutos do mar, fígado, sementes de abóbora, queijos, legumes e frutos secos, cereais completos, carnes, pescados, ovos e lácteos.

Texto por: Pietra Fogaça – Nutricionista
Revisão: Talita Szidlovski

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