O papel do estresse na dieta
Postado em 10/01/2024 às 11h:00
Primeiramente, é importante ressaltarmos que a alimentação exerce um papel extremamente grande na supressão do estresse, principalmente os alimentos ultraprocessados (também chamados de “comfort foods” ou “comidas que confortam”), no entanto, tal comportamento faz com que o indivíduo aprenda uma maneira fácil e rápida de lidar com o estresse cotidiano, criando um ciclo prejudicial e crônico.
A resposta/ciclo agudo da atividade do HPA (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal) é naturalmente, rápida, diante da liberação de glicocorticóides que então suprimiria/faria feedback negativo a partir dessa resposta. Entretanto, o problema é quando o indivíduo não tem mais a capacidade natural de regular essa resposta estressora. Ou seja, essa pessoa terá que utilizar outros meios de suprimir esse estresse já que, naturalmente, não consegue lidar com aquilo.
Infelizmente, o problema é que quando você “mima” o seu organismo dessa forma, consequentemente você começa a querer essa compensação de forma constante (por exemplo, através da comida).
Ademais, outro problema é que o estresse acaba acentuando o nível de insensibilidade à insulina e de leptina, além de também acabar reduzindo os hormônios anorexígenos (que diminuiria a fome) e aumentando os orexígenos (que aumentam a fome).
Por fim, quanto mais esse indivíduo vai condicionando sua resposta para suprimir esse efeito estressor, pior será. Pois, além do eixo HPA, há uma estrutura superior muito importante para fazer a regulação do estresse: o hipocampo e a amígdala.
Quando acontece um evento que remete ao estresse, nós teremos a atividade da amígdala, que irá fazer todo o circuito hormonal de liberação do hormônio cortisol (“hormônio do estresse”). Só que, com a exposição crônica ao estresse, para tentar regular esse circuito, nós teremos a atividade do cortisol e do hipocampo através da supressão da liberação do CRH (hormônio liberador de corticotrofina) e, portanto, ocorre a anulação da resposta estressora.
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O problema é que, no caso do indivíduo que tem exposição crônica ao estresse, ele começa a ter uma BAIXA ATIVIDADE HIPOCAMPAL, ou seja, o hipocampo começa a ter baixa capacidade de regular a resposta estressora. E, quando o indivíduo começa a alterar isso de maneira artificial através de eventos compensadores (“fuga”), o hipocampo passa a ser praticamente inútil, logo, a capacidade de resiliência do indivíduo ficará diminuída e as compensações serão aumentadas.
Além de tudo, isso também se retroalimenta a nível superior, que é a região da abstração, pensamento e sentimento. Ou seja, nós temos diversos pensamentos ruminativos e compreensões do mundo que elaboram respostas, e essa preocupação e esses pensamentos também podem gerar uma resposta estressora. Há indivíduos que só veem prazer na comida, pois não conseguem ter uma boa capacidade de enfrentamento do estresse, e é justamente o estresse que aumenta os nossos desejos.
Nós temos uma falsa impressão de que comer quando está estressado causa muito prazer e alívio, mas o nível de prazer experienciado será o mesmo do que uma pessoa que não está estressada experenciaria. No entanto, o estresse aumenta o desejo de eliminar aquele estresse (aumenta a busca por maneiras de lidar com o estresse), mas isso vira uma “bola de neve” pois depois vem a culpa. Indivíduos com obesidade e resistência à insulina tendem a experienciar maiores respostas de desejos e “cravings” (busca por alimentos palatáveis) mediante o estresse.
Por fim, vale ressaltar que nós devemos evitar tomar decisões no momento de estresse, pois o estresse além de aumentar as respostas do sistema de recompensa para buscar alívio, ele também suprime a nossa capacidade de controle inibitório (o córtex pré-frontal fica prejudicado). Logo, na hora do estresse, o indivíduo perde a capacidade de tomar decisões coerentes, por isso é necessário ter estratégias ANTECIPATÓRIAS de enfrentamento, já que a nossa resposta diante um reflexo estressor é automática, então nessas situações não iremos pensar em outras formas de agir, mas sim em agir conforme aprendemos durante toda a vida.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição