Tudo que você precisa saber sobre medicamentos para obesidade Tudo que você precisa saber sobre medicamentos para obesidade

Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Tudo que você precisa saber sobre medicamentos para obesidade

Postado em 10/06/2023 às 10h:01

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o excesso de peso e a obesidade são definidos como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura, o qual pode ser prejudicial à saúde, podendo levar a uma diminuição na expectativa de vida de 5 a 20 anos. Além disso, a obesidade aumenta substancialmente o risco para doenças como diabetes mellitus tipo 2, doença hepática gordurosa, doenças cardiovasculares, doença osteomuscular, doença de Alzheimer, depressão e alguns tipos de câncer (mama, ovário, próstata, fígado, rim e cólon).

Os principais causadores da obesidade seriam a inatividade física/sedentarismo, a redução do gasto energético e o comer em excesso. Esses três causadores sofrem influência de alguns medicamentos, um exemplo são os antidepressivos (podem interferir na vontade de fazer atividade física, pode alterar os circuitos neuroendocrinos relacionados ao gasto energético, pode alterar os circuitos associados com a vontade e busca por alimentos). Os corticoides também podem alterar algumas dessas coisas, mas não necessariamente irão tirar vontade de realizar atividade física.

Todavia, o principal fundamento é o desequilíbrio energético, a longo prazo, entre muitas calorias consumidas e poucas calorias gastas. Além disso, com relação às pressões seletivas do ambiente, há certos genótipos que favorecem o excesso no armazenamento e consumo de energia, baixo gasto energético e inatividade física, e são esses os indivíduos que tendem a ser selecionados.

Ou seja, nós, seres humanos de hoje, ainda temos um genótipo mais econômico (poupador de energia). Fora isso, temos o componente genético paterno, há a herdabilidade do IMC (pais com IMC elevado tendem a ter filhos também com IMC mais elevado). Além disso, tem a hipótese do ambiente obesogênico que, devido à ocidentalização (globalização com padrão ocidental), nós tivemos menor atividade/exercício físico e maior consumo energético de alimentos mais palatáveis (a chamada “obesidade hedônica”) e calóricos.

Logo, é evidente que a obesidade não é, na grande maioria das vezes, uma doença de “causa única”, e sim o resultado da interação dos genes com o ambiente. A obesidade pode ser classificada como uma doença na qual temos características de foco poligênico, ou seja, são vários genes que estão determinando, e não apenas um.

Com relação ao uso de fármacos para o tratamento da obesidade, algumas das possíveis abordagens que temos são o uso de inibidores de lipase intestinal, a modulação do armazenamento de gordura ou alteração nos processos de diferenciação do adipócito (moduladores de PPAR-PGC1a), fazer o mimetismo da restrição calórica ou da atividade física (ou seja, aumentar sinalização mediada por sirtuinas e via da AMPK), as terapias combinadas (bupropiona + naltrexona ou fentermina + topiramato), os análogos de GLP-1 (como a Saxenda) e os moduladores dos receptores de 5HT-2c (já retirados do mercado).

Embora a dieta, a atividade física e as modificações comportamentais sejam os pilares do controle de peso, a perda de peso obtida apenas por modificações no estilo de vida é limitada e difícil de manter (a longo prazo, por causa de alterações no gasto e no apetite).

A farmacoterapia para obesidade pode ser considerada se o paciente tiver um índice de massa corporal (IMC) de 30 kg/m2 ou maior ou um IMC de 27 kg/m2 ou maior com comorbidades relacionadas ao peso.

Os seis medicamentos antiobesidade mais utilizados são a fentermina, o orlistat, a combinação de fentermina com topiramato, a lorcaserina (que já foi proibida), a combinação de naltrexona com bupropiona e a liraglutida (que está cada vez mais sendo substituída pela semaglutida e a dulaglutida).

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É evidente, portanto, que não existe o fármaco ideal para todos, e sim aquele que é mais indicado para o paciente em específico. É importante que os provedores de cuidados primários estejam familiarizados com a farmacoterapia disponível para pacientes que não podem perder peso e sustentar a perda de peso apenas com intervenções no estilo de vida. A farmacoterapia bem sucedida para a obesidade depende da adaptação do tratamento aos comportamentos e comorbidades dos pacientes, bem como ao monitoramento rigoroso da eficácia, segurança e tolerabilidade.

Texto por: Pietra Fogaça Graduanda em nutrição

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