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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Tudo sobre o uso da testosterona no esporte

Postado em 12/08/2024 às 14h:40

Antes de falarmos dos diversos hormônios esteroidais que os atletas muitas vezes utilizam, é necessário entendermos de onde partem todas essas substâncias, ou seja, quem é o “pai” de todas elas. A testosterona é digamos a “origem” de todos os esteroides anabolizantes, seja direta ou indiretamente.
Por volta de 1935 a testosterona – que é um importante hormônio anabólico e androgênico – foi sintetizada na forma de “propionato” (o primeiro éster de testosterona), principalmente. O interesse em sua produção e comercialização, primariamente, era visando fins medicamentosos, mas ao longo do tempo foi sendo introduzida na rotina de atletas das mais diversas modalidades. Acredita-se que o primeiro uso “esportivo” da testosterona foi por volta de 1950 por atletas de levantamento de peso.

A testosterona exibe uma alta efetividade no que tange o aumento da massa muscular e da força e, quanto maior a dosagem utilizada e o tempo de uso, maior a expressão de tais efeitos (é dose-dependente). Para esse fim, normalmente utiliza-se uma dosagem de 250mg por semana ou mais, mas quando se trata de uma terapia de reposição hormonal de testosterona (TRT) o cenário muda.

A TRT é realizada em casos de hipogonadismo, ou seja, a glândula responsável pela produção do hormônio testosterona não está produzindo de forma adequada, provocando um nível baixo desse hormônio no organismo (abaixo de 300ng/dL). O hipogonadismo ocorre principalmente em homens mais velhos ou então em jovens que abusaram muito do uso do hormônio sintético – no Brasil utiliza-se principalmente na forma de Durateston e Deposteron -, causando uma inibição do eixo normal de produção desse hormônio! A TRT é feita com o intuito de, ao longo do tempo, tentar restabelecer a produção normal do hormônio ou então apenas minimizar os efeitos colaterais da baixa testosterona (cansaço, baixa libido, desânimo etc.). Quando pensamos em uma TRT, as doses utilizadas variam em torno de 200-250mg de testosterona a cada 2 ou 3 semanas.

É importante dizer que, na prática, não há grandes e relevantes diferenças nos efeitos de usar distintos ésteres de testosterona (Enantato, Propionato, Durateston, Cipionato). A distinção principal entre os ésteres está na sua meia-vida e na quantidade de hormônio em 100mg. O Propionato é o éster com a maior quantidade de testosterona em 100mg (cerca de 83%). No entanto, diferenças na meia-vida podem ser aplicáveis para quem fará exame anti doping ou para o indivíduo que está fazendo a TPC, mas não diretamente sobre os efeitos do fármaco.

Com relação ao fisiculturismo, foi por volta de 1958 que a testosterona começou a se popularizar entre os atletas. No entanto, há evidências de que os atletas da época não conseguiam manejar muito bem o uso desse hormônio com relação aos efeitos adversos do estrogênio (como a ginecomastia). Depois, com o desenvolvimento e popularização do Tamoxifeno, Clomifeno e até HCG, esse problema acabou se solucionando.

Em meados dos anos 80, o uso da testosterona foi se tornando mais popular e aceito pelos fisiculturistas, já que conseguiam controlar melhor os efeitos estrogênicos. Ao longo dos próximos anos, os ésteres – os “derivados” – da testosterona foram surgindo e se popularizando entre os atletas, fazendo com que muitos indivíduos começassem a utilizar essas substâncias de forma contínua.

Atualmente não são apenas os atletas de elite que fazem uso de hormônios derivados da testosterona, e sim apenas praticantes de musculação. É válido destacar que, infelizmente, a grande maioria desses usuários não faz a menor ideia da gravidade que o uso indiscriminado e contínuo dessas substâncias apresenta, podendo provocar consequências gravíssimas e até a morte.
Vale ressaltar, no entanto, que a testosterona age em diversos tecidos através da ligação com o receptor androgênico, mas também age através da sua conversão em estrogênio e em DHT (di-hidrotestosterona), que é responsável por muitos efeitos adversos do uso supra fisiológico desse hormônio.

A testosterona é considerada a “droga base” em um ciclo de esteroides anabolizantes, mas deve-se entender que não é simples definir qual a dosagem que cada indivíduo deve utilizar e por quanto tempo, já que a resposta individual é determinante nesse cenário. A testosterona é um esteroide muito anabólico e com fortes efeitos androgênicos, podendo então provocar muita acne em indivíduos que já possuem essa tendência. Com relação à acne, isso ocorre em partes por conta da testosterona se converter em DHT, e por isso também pode causar queda de cabelo e hipertrofia prostática (que é menos comum).

Um dos pontos “benéficos” do uso da testosterona é o fato de que ela não é um fármaco hepatotóxico, ou seja, não danifica tanto a saúde do fígado. Além disso, ela também não tem potencial de afetar tão fortemente o perfil lipídico (níveis de colesterol) e, por isso, acaba por ser utilizada por períodos mais longos caso os outros efeitos colaterais androgênicos estejam controlados.

No entanto, a testosterona, muitas vezes, provoca o efeito colateral de elevação do hematócrito em alguns indivíduos, sendo necessário monitorar isso em exames sanguíneos no longo prazo. Um dos efeitos adversos mais comuns e presentes devido ao uso da testosterona é a ginecomastia (aumento do tecido mamário), mas isso é algo mais plausível de ser controlado.

Ademais, ainda que com muito mais ressalvas, a testosterona também pode ser utilizada pelas mulheres, pois elas são mais sensíveis a esse hormônio do que aos outros androgênios. A produção de testosterona nas mulheres é aproximadamente 10 vezes menor que a dos homens, cerca de 4 a 7mg por semana. Tendo isso em mente, dosagens de cerca de 30 a 50mg por semana já são muito eficazes para o aumento de força e massa muscular em mulheres, com menor risco de virilização. No entanto, infelizmente, a libido das mulheres é muito sensível ao uso de testosterona e interromper o uso pode afetar muito o desejo sexual, a autoestima e a disposição.

Texto por: Pietra Fogaça Graduanda em nutrição

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