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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Tudo sobre alimentos funcionais

Postado em 23/07/2024 às 14h:30

Antes de tudo, gostaria de destacar que a “nutrição funcional” nada mais é do que uma abordagem moderna – e baseada em evidências científicas – que visa a promoção da saúde e a prevenção de doenças através da alimentação. Essa área emergente da nutrição reconhece que os alimentos não são apenas fontes de calorias e “macros”, mas também contêm substâncias bioativas que podem influenciar diretamente nos processos fisiológicos e metabólicos no nosso tão complexo organismo humano. Sendo assim, é evidente que os alimentos funcionais, nesse contexto, desempenham um papel fundamental.

Em geral, os alimentos considerados “funcionais” são aqueles que, além de fornecer nutrientes essenciais, contêm componentes ativos que oferecem benefícios adicionais à saúde. Esses benefícios podem incluir desde propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, até modulação de processos metabólicos específicos. A identificação e compreensão desses alimentos funcionais são fundamentais para a prática da nutrição funcional, permitindo aos profissionais da área recomendar dietas personalizadas que não apenas supram as necessidades nutricionais básicas, mas também promovam saúde no longo prazo.

Dentre os alimentos funcionais, uma classe que representa papel importantíssimo na dieta do ser humano é justamente a família de ácidos graxos essenciais poli-insaturados (PUFA), que exercem principalmente uma atividade anti-inflamatória. Esses ácidos graxos irão agir em dois pontos nutrigenômicos (essa é a forma de “expressão gênica” deles): no PPAR (receptores acoplados a proliferadores de peroxissomos; que é um fator de transcrição) e no RAPG (receptores acoplados à proteína G).

Os PUFAs podem ser divididos principalmente em DHA/docosahexaenóico (que terá ação cerebral, ocular e na saúde em geral) e EPA/eicosapentaenoico (mais relacionado com a saúde das articulações e saúde cardíaca).
PPAR são fatores de transcrição, ou seja, são proteínas que ficam no citosol da célula e que, quando ativadas, promovem a formação de um RNA mensageiro. Logo, um ligante de PPAR fará com que aumente, por exemplo, nas células do meu fígado a oxidação de gorduras, nas células do meu músculo a captação de insulina (uma das vias em que o ômega 3 melhora a sensibilidade à insulina é via PPAR, pois aumenta a síntese de proteínas que, de alguma forma, melhorarão a entrada da glicose na célula).

Quando estimulamos o aumento de PPAR estimulamos também o aumento de GLUT-4 (transportador de glicose que coloca a glicose dentro da célula). Nós temos vários tipos de RAPG que ficam acoplados à membrana e, quando são ativados, eles farão uma série de respostas! O RAPG que o ômega 3 age é o 120, e quando ele é ativado ele ativa a betahistina e terá como fim bloquear a TAK1, que tem como fim bloquear a IKK e, por fim, bloquear o NF-kB e, assim, bloquear a inflamação.

Além disso, o ômega 3 contribui muito para a fluidez dos eritrócitos (células vermelhas do sangue ou hemácias), o que é muito importante pois são essas as células que carregam oxigênio. Dessa forma, essas hemácias precisam ser bastante maleáveis/deformáveis, pois assim conseguem passar mais “espremidas” nos capilares e conseguem passar maior quantidade e entregar mais oxigênio para o músculo.

Um diabético com HbA1c (hemoglobina glicada) em 10%, por exemplo, significa que tem sua hemoglobina 10% na forma glicada e, portanto, 10% dela não é capaz de carregar oxigênio. Por isso que um dos riscos do diabético descompensado é justamente apresentar necrose em suas extremidades, pois ocorre hipóxia (falta de oxigênio) já que a hemoglobina dele está glicada.

O ômega 3 também pode auxiliar na atenuação de sintomas de asma induzida pelo exercício (AIE), que ocorre no atleta de endurance que treina em locais mais frios e/ou em horários mais cedo do dia, etc. Além disso, ele atua também na atenuação da inflamação muscular (bloqueando o NF-kB0, que influencia na fadiga muscular). Quanto à suplementação, é visto que é melhor ingerir a cápsula de ômega 3 preferencialmente no almoço ou no jantar, pois são refeições com mais fibra insolúvel e não solúvel (fibras que carregam a gordura).

Outra classe importante de alimentos funcionais é a família de ácidos graxos essenciais poli- insaturados (PUFA) com atividade pró e anti-inflamatória, os chamados “ômega 6”. Primeiramente, vale ressaltar que nem todo ômega 6 é pró-inflamatório, pois a formação de ácido araquidônico pelo ômega 6 depende muito do contexto da dieta do indivíduo. Há também os ômegas 9, que são uma família de ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) não essencial com atividade anti-inflamatória, geralmente estaremos falando de ácido oleico (mais abundante na natureza, possui 18 carbonos e 1 insaturação, muito presente em azeite de oliva, abacate e oleaginosas).

Ainda, há também o que chamamos de “fitoquímicos”, que são substâncias que conferem cor aos alimentos, eles são compostos bioativos produzidos pelo metabolismo secundário de plantas. Os fitoquímicos podem ser divididos em três macro categorias: POLIFENOIS, GLICOSINOLATOS e CAROTENOIDES.

Os Polifenóis são fitoquímicos formados por um benzeno e uma hidroxila, que é um grupo “OH” (ou seja, isso é um “fenol”). Essa classe de fitoquímicos pode ser dividida em duas categorias: os FLAVONÓIDES (como as antocianinas e a isoflavona) e NÃO FLAVONÓIDES (como a lignana).

Provavelmente você deve estar se perguntando em como esses compostos podem agir e o que acontece após ingerirmos alimentos que contenham esses compostos. O que ocorre é que, depois que ingerimos, por exemplo, uma salada de frutas riquíssima em polifenóis, nós começaremos a digerir esses alimentos e começaremos a formar o bolo alimentar. Logo após, os nutrientes começam então a se desprender da matriz alimentar.

Sabe-se que cerca de 5 a 10% dos polifenóis são absorvidos no intestino delgado, e todo o resto acaba se direcionando para o intestino grosso, mas vale destacar que ainda terá uma porcentagem que será absorvida lá no intestino grosso (cólon). Os que não são absorvidos serão metabolizados pelas bactérias do nosso intestino, a nossa microbiota intestinal. O resveratrol é um fitoquímico que tem tanto a forma trans quanto a forma cis, sendo que a forma trans, nesse caso, tem uma maior biodisponibilidade. Vale ressaltar que, quanto mais escura a casca daquele alimento, maior é a quantidade de resveratrol que ele possui.

Os carotenoides são outra classe de fitoquímicos, e eles são tetraterpenoides encontrados em determinados vegetais e frutas. Uma grande diferença dessa classe de fitoquímicos para as outras é que esses fitoquímicos apresentam uma meia vida bem lenta.

A terceira classe de fitoquímicos são os glicosinolatos, que são fitoquímicos que terão enxofre em sua composição (e, por isso, podem apresentar um odor forte) e nitrogênio. Os glicosinolatos são encontrados majoritariamente nas brássicas ou nas crucíferas. Esses alimentos podem ser divididos em três famílias, a depender do tipo de aminoácido presente: podem ser os AROMÁTICOS (caso contenha tirosina/fenil), os ALIFÁTICOS (caso tenha metionina) e os INDOIS (caso tenha triptofano). Os indois são os “indol-3-carbinol” e os alifáticos são os “isotiocionatos” ou “sulfurafanos”.

Resumidamente, essa classe de fitoquímicos se chama “glicosinolatos” pois possuem uma glicose dentro deles. O próprio alimento, como os brócolis, possui dentro dele uma proteína chamada Mirosinase que precisa ser ativada no próprio alimento para poder liberar a glicose e para que o glicosinolato possa ser absorvido sem a glicose. Outro ponto importante de entendermos é que, para ativar a mirosinase dos brócolis, é preciso macerar/mastigar/danificar ele.

Os glicosinolatos são os fitoquímicos com maior potencial anticarcinogênico, um exemplo é o fato de que o indol-3-carbinol tem ação na Telomerase, que é uma Ribonucleoproteína que mantém a integridade do telômero (TTAGGG). Essa Telomerase fica fazendo o telômero o tempo inteiro, e o Telômero faz parte do controle da célula (senescência celular replicativa), ou seja, ele nos protege de estar carregando uma “célula velha”.

O telômero é uma pequena estrutura que fica na pontinha do cromossomo e que nos impede de carregar células velhas, enquanto as células tumorais são “teimosas” em relação a isso, já que elas têm uma alta atividade da Telomerase, chegando a ser 84% maior que em uma célula normal. A Telomerase do câncer é tão acelerada que não permite que ela se divida/tenha fim.

Outra classe de alimentos funcionais são os “probióticos”, que são micro-organismos (que eu coloco no meu corpo) benéficos para a nossa saúde. Além disso, temos também os “prébióticos”, que são produtos que possuem cepas benéficas de bactérias. Por outro lado, os chamados “simbióticos” são alimentos ou suplementos em que um probiótico e um prebiótico estão combinados. Por fim, os “pós-bióticos” são, na verdade, um RESULTADO, pois são o que o micro-organismo produz, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), por exemplo o Acetato (2C:0), o Propionato (3C:0) e o Butirato (4C:0). Eles agem no RAPG43 (Acetato e Propionato), no RAPG41 (Propionato e Butirato) e no RAPG109 (Butirato).

O Butirato é o principal substrato utilizado pelo epitélio colônico, e ele tem bastante ação na saúde neuronal. O principal alimento que faz Butirato – que tem uma elevada capacidade butirogênica – é o amido resistente e o farelo de aveia, que são alimentos ricos em FIBRAS. O acetato pode ajudar na redução do apetite, aumentando a saciedade.

Em resumo, os fitoquímicos, como os polifenóis, carotenoides e glicosinolatos, representam elementos essenciais encontrados em uma variedade de alimentos que desempenham papéis cruciais na nossa saúde. Os polifenóis, por exemplo, presentes em frutas escuras e vegetais como uvas e brócolis, não apenas oferecem proteção antioxidante, mas também podem influenciar a biodisponibilidade de compostos como o resveratrol, conhecido por sua maior concentração em cascas escuras. Os carotenoides, abundantes em vegetais como cenouras e abóboras devido às suas cores vibrantes, contribuem para a saúde ocular e imunológica, destacando-se por sua lenta metabolização no organismo. Por outro lado, os glicosinolatos, encontrados em vegetais crucíferos como couve e brócolis, são reconhecidos por seu potencial anticarcinogênico.

Portanto, compreender e incorporar uma variedade desses fitoquímicos na dieta diária não apenas fortalece a saúde geral, mas também proporciona uma “defesa natural” contra doenças crônicas, destacando a importância de escolhas alimentares ricas em frutas, vegetais coloridos e fibras para promover um estilo de vida saudável e equilibrado.

Texto por: Pietra Fogaça – Nutricionista

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