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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Qual a diferença da dieta low carb para a dieta cetogênica?

Postado em 30/10/2024 às 10h:00

É provável que você já tenha considerado a dieta low carb como equivalente a dieta cetogênica, no entanto, vamos esclarecer as distinções entre essas duas abordagens alimentares a fim de evitar confusões. As dietas low carb e cetogênica são dois tipos de dietas que, apesar de compartilharem algumas semelhanças, apresentam diferenças importantes em sua composição e efeitos no organismo. Como dito anteriormente, é muito comum que as pessoas confundem esses dois estilos de alimentação, uma vez que ambos envolvem a redução do consumo de carboidratos, porém, é crucial entender suas particularidades para fazer uma escolha consciente e adequada aos seus objetivos e necessidades de saúde.

A dieta low carb é um padrão alimentar que reduz a ingestão de carboidratos em relação ao que se considera uma dieta padrão, mas não há uma quantidade absoluta dos carboidratos que deve ser consumida – esse percentual de carboidratos pode ser bem variado, logo, existem “muitas dietas low carb”.
Em uma dieta ocidental típica, por exemplo, cerca de 45-65% das calorias vêm dos carboidratos. A dieta low carb, por outro lado, será composta por menos de 45% do valor energético total (VET) em carboidratos. Já a dieta cetogênica, que é MUITO baixa em carboidratos, possui menos de 10% do VET em carboidratos.
Visto isso, uma dieta low carb não é uma dieta zerada em carboidratos e também nem precisa ser uma dieta baixíssima desse composto.

É possível ainda que você já tenha ouvido alguém falar que “a dieta low carb foi a que mais deu resultado” para ela, mas, precisamos ser críticos quanto a isso. Quanto aos efeitos fisiológicos dessas dietas que reduzem carboidratos, é evidente que ocorrerá, com a redução do consumo dessa substância bem como uma redução da liberação do hormônio insulina, de forma aguda. Com isso, aumentará a eliminação de sódio e de água, o que reduz a retenção hídrica e, consequentemente, reduz o peso corporal. Além disso, com a redução do carboidrato, ocorre redução dos níveis de glicose, o que reduz os estoques de glicogênio e, dessa forma, reduz água (pois o glicogênio está ligado com molécula de água), reduzindo o peso corporal. Inclusive, é por essa perda maior de peso inicialmente, que muitos insistem em afirmar que as dietas low carb emagrecem mais. No entanto, de forma crônica (a longo prazo), essa queda de insulina tende a normalizar. E, além disso, vale ressaltar que perder peso não é a mesma coisa que perder gordura. Logo, por mais que a low carb possa ser interessante para pacientes com quadro de resistência à insulina, isso é só em um primeiro momento, já que depois o benefício se iguala a dietas com carboidrato mais alto.

Em comparação com a dieta cetogênica, essa abordagem permite uma maior flexibilidade em relação ao que pode ser consumido. Na low carb, alimentos ricos em carboidratos, como pães, massas e açúcar, são um pouco limitados, enquanto vegetais, frutas, proteínas (carnes, ovos, peixes) e gorduras saudáveis (azeite, abacate, nozes) são priorizados. Uma característica importante da low carb é que ela não elimina completamente nenhum grupo alimentar, apenas modera o consumo de carboidratos, o que já é diferente da dieta cetogênica.

A dieta cetogênica, ou “dieta keto”, é uma abordagem muito mais restritiva em relação aos carboidratos. Ela exige que o consumo de carboidratos seja extremamente baixo, em torno de 5- 10% do VET, enquanto a maior parte das calorias é obtida através das gorduras, representando cerca de 70-80% das calorias diárias. E, ao contrário do que muitos pensam, o consumo de proteínas não pode ser alto na cetogênica (as proteínas compõem cerca de 15-20% do VET).

O objetivo da dieta cetogênica é induzir o corpo a entrar em um estado metabólico chamado cetose, no qual ele começa a utilizar a gordura armazenada como sua principal fonte de energia, convertendo-a em moléculas chamadas corpos cetônicos. Para alcançar esse estado, a ingestão de carboidratos precisa ser extremamente baixa, o que força o fígado a começar a produzir cetonas a partir da gordura, em vez de usar a glicose (proveniente dos carboidratos) como fonte primária de energia.

A diferença mais expressiva entre esses dois tipos de dietas é a quantidade de carboidratos permitida. Enquanto a dieta low carb permite uma ingestão moderada de carboidratos, variando entre 50 e 150 gramas por dia, a dieta cetogênica limita os carboidratos a níveis extremamente baixos, geralmente consiste em uma ingestão diária de apenas cerca de 20 a 50 gramas de carboidrato ao dia (a depender da literatura científica consultada).

A dieta low carb é menos rígida, mas, na cetogênica, os carboidratos são tão limitados que até o consumo de frutas é mais reduzido (o paciente terá que consumir mais abacate e frutas bem baixas em carboidratos, como morangos e melão), e até alguns vegetais mais ricos em amido (como as batatas) são diminuídos.

Ambas as dietas podem sim ser eficazes para perda de peso e controle de glicemia, mas a dieta cetogênica tem um foco maior na cetose e seus benefícios, sendo que o principal são os efeitos terapêuticos em condições neurológicas, como a epilepsia (a dieta cetogênica foi inicialmente desenvolvida como tratamento para epilepsia refratária, e há estudos que apontam potenciais benefícios em outras condições, como Alzheimer e Parkinson).

Em geral, dietas com menos carboidratos tendem a ser benéficas para quem tem resistência à insulina ou diabetes tipo 2. Mas são dietas que nem sempre irão funcionar para todos, ainda mais pensando que a alimentação do brasileiro é rica em carboidratos e é por isso que muitas pessoas não conseguem segui-la por períodos mais prolongados. A escolha entre uma dieta low carb e cetogênica depende dos objetivos, estilo de vida e condições de saúde. Para quem busca uma redução moderada de carboidratos sem uma restrição extrema, a low carb pode ser mais adequada e sustentável a longo prazo.

É sempre importante lembrar que cada corpo reage de forma diferente e consultar um bom nutricionista é fundamental antes de iniciar qualquer dieta, especialmente para avaliar possíveis contra indicações e garantir que todas as necessidades nutricionais sejam atendidas.

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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