Recursos ergogênicos no fisiculturismo e controle dos colaterais
Postado em 16/09/2025 às 11h:00
O mundo do fisiculturismo exige uma dedicação extraordinária, combinando treinamento rigoroso, nutrição precisa e uma recuperação meticulosa. Nesse cenário, os recursos ergogênicos no fisiculturismo – substâncias ou métodos utilizados para melhorar o desempenho físico – são uma realidade para muitos atletas que buscam maximizar a hipertrofia, a força e a definição muscular. No entanto, a busca por resultados não pode ignorar a complexa equação de riscos e benefícios. Abordar a utilização desses recursos de forma responsável é fundamental para a longevidade e saúde do atleta.
Compreendendo os recursos ergogênicos
Esses recursos podem ser divididos em diversas categorias. Os mais conhecidos no cenário do bodybuilding são os recursos farmacológicos, como os esteroides anabolizantes androgênicos (EAAs), hormônio do crescimento (GH) e moduladores seletivos do receptor de androgênio (SARMs). Existem também os recursos nutricionais, como a creatina, a cafeína e os BCAAs, que, embora amplamente aceitos e seguros, também têm protocolos de uso específicos.
- Esteroides Anabolizantes Androgênicos (EAAs): São derivados sintéticos da testosterona, projetados para promover o crescimento muscular (efeito anabólico) e desenvolver características masculinas (efeito androgênico). Sua eficácia na hipertrofia é inquestionável, mas seu uso é associado a uma série de efeitos colaterais.
- Hormônio do Crescimento (GH): Atua no metabolismo, na lipólise e no crescimento celular. No fisiculturismo, é valorizado por sua capacidade de promover a perda de gordura, melhorar a recuperação e potencializar os efeitos dos EAAs.
Desvendando e controlando os efeitos colaterais
O uso de recursos ergogênicos farmacológicos, especialmente em doses elevadas e por períodos prolongados, traz riscos consideráveis. O manejo desses riscos é o ponto central para um uso consciente e seguro, um papel onde o treinador e o atleta devem atuar em conjunto com profissionais de saúde.
1. Efeitos Cardiovasculares: O uso de EAAs pode levar a um aumento da pressão arterial, elevação do colesterol LDL (“ruim”) e diminuição do colesterol HDL (“bom”), além de hipertrofia ventricular esquerda (aumento do músculo cardíaco).
Controle: O monitoramento regular da pressão arterial e do perfil lipídico é crucial. Estratégias incluem a modulação da dieta (rica em gorduras saudáveis, fibras), a inclusão de exercícios cardiovasculares no treino e, quando necessário, o uso de medicações prescritas por um médico.
2. Efeitos Hepáticos: A maioria dos EAAs orais é 17-alfa-alquilada para evitar a metabolização no fígado, o que pode causar hepatotoxicidade.
Controle: Evitar EAAs orais ou limitar seu uso a ciclos curtos. Monitorar as enzimas hepáticas (TGO e TGP) através de exames de sangue periódicos é fundamental. Suplementos hepatoprotetores como a TUDCA e a NAC (N-acetilcisteína) podem ser utilizados, mas sua eficácia e segurança devem ser discutidas com um profissional de saúde.
3. Supressão do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Testicular (Eixo HPT): O uso de EAAs exógenos suprime a produção natural de testosterona pelo corpo, podendo levar a atrofia testicular e hipogonadismo após a interrupção do ciclo.
Controle: A Terapia Pós-Ciclo (TPC) é projetada para restaurar a produção hormonal natural. Geralmente envolve o uso de moduladores do receptor de estrogênio (SERMs), como o tamoxifeno e o clomifeno, que estimulam a liberação de hormônios que sinalizam a produção de testosterona. O objetivo é minimizar a perda de massa muscular e restaurar a fertilidade.
4. Ginecomastia: O excesso de testosterona exógena pode ser convertido em estrogênio pela enzima aromatase, levando ao desenvolvimento de tecido mamário.
Controle: Uso de Inibidores de Aromatase (IA), como o anastrozol, para bloquear a conversão de andrógenos em estrogênios. No entanto, é vital dosar a utilização desses inibidores para não suprimir o estrogênio a níveis perigosamente baixos, o que pode comprometer a saúde óssea e o perfil lipídico.
A Importância da abordagem multidisciplinar
O uso de recursos ergogênicos deve ser uma decisão informada, e não uma ação isolada. Treinadores e atletas profissionais devem trabalhar em conjunto com uma equipe de saúde composta por médicos, endocrinologistas e nutricionistas. Exames de sangue regulares, antes, durante e após os ciclos, são a única maneira de monitorar objetivamente os efeitos no corpo e ajustar o protocolo conforme necessário.
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