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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Índice de massa corporal (IMC), distribuição da gordura corporal e impactos no emagrecimento

Postado em 21/09/2023 às 14h:34

Muitos indivíduos criticam a classificação do Índice de Massa Corporal (IMC), mas devemos sempre lembrar que ele é uma classificação a nível populacional, ou seja, sua aplicabilidade não consiste simplesmente em analisar indivíduos isoladamente e dizer se “estão ou não saudáveis”.

A aplicabilidade do cálculo e uso do IMC é mais populacional, ou seja, é mais para avaliar indivíduos que se assemelham a grande maioria da população, e não casos específicos como fisiculturistas. Além disso, por questões práticas e financeiras, é inviável fazermos avaliação por dobras cutâneas e, muito menos, por densitometria óssea (DEXA), em 10 mil pessoas. Logo, é utilizado o IMC, que é muito mais prático, rápido e acessível financeiramente.

Obviamente, não é um parâmetro que reflete a composição corporal (então o IMC tem sim as suas limitações), já que sabemos que há algumas pessoas com maior massa muscular e, portanto, com maior peso. Além disso, vale ressaltar que não é só o peso em si que é importante, até porque o local onde essa gordura está armazenada no indivíduo tem aplicações/consequências diferentes quando pensamos em ação sistêmica. Isso ocorre, pois, a sinalização realizada pela gordura localizada mais no tríceps é diferente da gordura mais central (entre os órgãos).

Um exemplo é um paciente com sobrepeso poder ter mais risco que um paciente com obesidade grau 1, pois esse com sobrepeso possui bem mais gordura visceral (gordura acumulada entre os órgãos), apresentando maior risco para esteatose hepática.

Vale destacar, também, que o ponto de corte de circunferência de cintura, para risco de síndrome metabólica, varia para cada grupo étnico diferente e também conforme o sexo (japoneses e chineses têm ponto de corte mais baixo).

É importante, portanto, que o paciente seja avaliado como um todo, de forma a entender realmente como está a distribuição de gordura corporal dele e, a partir disso, traçar as melhores estratégias nutricionais para ele.

Ao longo dos anos, observa-se um aumento da prevalência do excesso de peso e da obesidade na sociedade, tanto nos homens quanto nas mulheres.
Quando pensamos em alguém de 70kg, essa pessoa terá cerca de 2.000kcal de reserva energética na forma de carboidrato (glicogênio muscular e hepático), 120.000kcal na forma de gordura corporal e 25.000 na forma de proteína (principalmente musculares).

Ao observarmos um paciente com obesidade, de 100kg, veremos que o que aumenta significativamente a sua reserva é também a gordura, não mudando tanto proteínas e glicogênio. Entender isso é importante para sabermos que, esse paciente com obesidade, apresenta maior proteção da massa muscular, justamente pelo excesso de gordura (que age protegendo essas proteínas musculares), então não há por que ter medo da perda de massa muscular ao realizar dietas mais restritas neste paciente.

Quanto à distribuição de gordura corporal, homens tendem a ter maior quantidade de gordura visceral (formato “maçã”), enquanto mulheres – antes da menopausa – terão uma maior quantidade de gordura nos glúteos, pernas e tríceps (formato “pera”). Essa gordura mais periférica, que encontramos em maior quantidade, normalmente, em mulheres, é mais saudável. Logo, é importante olharmos para os nossos pacientes além do IMC e do percentual de gordura, mas sim também por dobras cutâneas e circunferências.

Com o ganho de peso, há hipertrofia dos adipócitos, mas se continuar ganhando gordura corporal, ocorre a transformação de pré-adipócitos em adipócitos, ou seja, há aumento do número de adipócitos também. O grande problema é que, posteriormente, quando esse paciente começa um processo de perda de peso e gordura, esse paciente terá maior dificuldade no processo de apoptose (morte celular) dos adipócitos novos, ou seja, haverá maior dificuldade no emagrecimento futuramente.

Dessa forma, temos que entender que a ingestão alimentar vai muito além das calorias ingeridas, e o prazer pela comida é, até certo ponto, fundamental para que tenhamos uma busca pela ingestão. Ou seja, a ingestão de alimentos não se dá apenas por fatores fisiológicos (como elevação de grelina), mas sim por fatores comportamentais, sociais, sensoriais, etc.

Vale lembrar que não há apenas um sinal de fome e saciedade, mas sim vários, e cada ambiente que estamos age modulando esses sinais. Fora isso, em pacientes com obesidade, observa-se alterações nesses mecanismos de fome e saciedade, então todo o manejo se torna diferente, temos que mostrar essas alterações, valorizar os resultados dele e buscar maneiras para que ele encontre maior motivação sem ser apenas na comida.

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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