Intolerância e alergias alimentares
Postado em 26/06/2024 às 11h:00
A intolerância à lactose (ou hipolactasia) é a redução ou falta da produção da enzima lactase nas microvilosidades intestinais (essa enzima quebra o dissacarídeo lactose em galactose e glicose), culminando em sintomas digestivos como dor abdominal, distensão, diarreia e flatulências quando ocorre a ingestão elevada de alimentos contendo esse tipo de carboidrato. No entanto, vale lembrar que mesmo indivíduos com intolerância à lactose conseguem tolerar, em média, de 12 a 18g/dia de lactose (1 copo de leite integral possui cerca de 12g de lactose).
Há dois subtipos de intolerância à lactose, a primária e a secundária. A intolerância à lactose primária consiste na redução da enzima a partir dos 2-3 anos de idade, enquanto a secundária resulta de uma outra condição clínica (por exemplo: se o indivíduo possui alguma lesão que acaba lesionando o local onde tenho a produção da enzima no corpo, como ocorre no caso da doença celíaca, ele pode acabar desenvolvendo a intolerância à lactose). Mas vale lembrar que a secundária é transitória, e a resolução do caso é justamente a recuperação do enterócito.
Outro ponto interessante de sabermos é de que até 70% da população mundial pode ter algum grau de intolerância à lactose, mas isso varia muito de região para região, dado a própria cultura diferenciada de cada local. Os asiáticos, por exemplo, não têm o costume de consumir lácteos e, portanto, a intolerância à lactose é mais predominante nessa população específica.
O diagnóstico dessa intolerância se dá através do teste de curva glicêmica (teste de provocação alimentar) que, se for o caso de um indivíduo não intolerante à lactose, temos que observar um aumento da glicemia em relação ao basal.
O tratamento dessa condição é bem variável, mas consiste basicamente em realizar a restrição e reintrodução gradual (respeitando o limiar de cada um) de lactose na dieta, a realização do fracionamento de alimentos contendo lactose ao longo do dia, o uso da enzima lactase em momentos específicos (para socialização, por exemplo), entre outros.
Geralmente, as enzimas comerciais de lactose possuem em torno de 10.000 FCC (unidade de atividade enzimática), e aí cabe ao nutricionista observar como esse paciente responde a essa dose, ou seja, é um teste individual. Essas enzimas devem ser ingeridas preferencialmente 20 minutos antes da refeição.
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No caso da doença celíaca, trata-se de uma resposta autoimune (do próprio sistema imunológico daquele indivíduo) a um componente protéico de alguns cereais. Vale lembrar que cada cereal possui uma composição protéica diferente: a cevada tem 8% de glúten, enquanto o trigo tem cerca de 90%. A doença celíaca é uma enteropatia inflamatória autoimune multissistêmica e crônica, que gera inflamação na mucosa do intestino delgado sempre que ocorre a ingestão de glúten.
No entanto, um indivíduo pode ter diagnóstico de doença celíaca mas não manifestar os sintomas, e mesmo assim esse indivíduo terá que fazer uma dieta com restrição de glúten. Outro caso é o indivíduo que tem o gene mas não manifesta. Nesse caso, não é necessário realizar a restrição do glúten, pois a doença não se manifestou.
Por fim, vale ressaltar que a prevalência da doença celíaca é muito sub relatada, pois o diagnóstico é difícil. Isso é preocupante, pois é visto que quem tem a doença celíaca e NÃO trata ela acaba tendo 5 vezes mais risco de morte. Pessoas com doença celíaca não tratada possuem maior risco para câncer, infertilidade, saúde óssea prejudicada, desnutrição, síndrome de má absorção, entre outros.
Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição
Pietra, 23 anos, reside em Porto Alegre no Rio Grande do Sul.
É graduanda em nutrição (último semestre) na UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.