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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Exagero ou compulsão alimentar?

Postado em 09/01/2024 às 10h:05

O comer exagerado – também chamado de comer hedônico ou hiperfágico – é consideravelmente diferente do transtorno de compulsão alimentar (TCA), pois comer por prazer é muito diferente de comer transtornado.
O comer transtornado é uma busca por aliviar sentimentos como desconforto, angústia e/ou frustração só que de uma maneira completamente descontrolada, ou seja, o indivíduo come até sentir um elevado desconforto. Além disso, tal comportamento ocorre em situações aleatórias, mediante determinado gatilho, e não existe uma compulsão por alimentos específicos ou então uma “compulsão por doces”.

Vale destacar, que pessoas com transtornos alimentares apresentam comportamentos não estereotipados que culminam em exageros, dos quais são motivados por estímulo ambiental e/ou angústia percebida, mas, para que seja possível caracterizarmos como um transtorno alimentar realmente, tem que haver uma certa frequência desses episódios.
Isso ocorre, pois, há indivíduos que podem manifestar episódios de compulsão (episódios de “binge eating”) de forma não frequente, no momento em que esses episódios vão aumentando a sua frequência, aí sim a situação começa a se caracterizar como um transtorno alimentar.

O comer exagerado/hiperfágico é, teoricamente, “normal”. Esses exageros alimentares são, na verdade, um desajuste/descontrole às sugestões alimentares do ambiente (temos uma certa programação biológica para “aproveitar” essas sugestões alimentares) e, quanto melhor ela for em relação à palatabilidade e experiência subjetiva, mais eu consumo em quantidade – entretanto, só isso não caracteriza um transtorno alimentar.

O transtorno de compulsão alimentar pode estar relacionado com maior risco para obesidade, mas nem todo obeso tem o transtorno de compulsão alimentar. Ademais, quando a pessoa está em um episódio de comer compulsivo, ele está, na realidade, tentando sanar um desconforto, está diante de um sentimento que causa desconforto e que o leva a cometer esse exagero.
O volume alimentar é uma consequência dessa disfunção na hora que esse indivíduo está consumindo, pois ele não tem um sinal de “stop” (parada), ou seja, ele come até causar muito desconforto.

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Outro ponto importante de entendermos é que não existe compulsão por doces e tampouco vício em açúcar, o que ocorre são preferências a determinados alimentos que podem acarretar em exageros de consumo alimentar. Um vício, de fato, acarreta em sensações de abstinência e de desconforto, com manifestações psicológicas e somáticas. Ou seja, o vício por substâncias é completamente distinto de um comer compulsivo frente a determinado tipo de alimento ou grupo alimentar. Vale destacar que, no entanto, um alimento pode ter características que aumentem a sua palatabilidade e, com isso, acabam gerando um reforço nesse comportamento.

Por fim, é interessante diferenciar os termos relacionados a essa temática. O desejo (“craving”, ou “fome seletiva”) é ocasionado basicamente quando há um estímulo proporcionado pelo ambiente para que o indivíduo busque um alimento específico. De outra forma, a impulsividade é quando há pouca ou nenhuma premeditação por parte do indivíduo em comer a mais, é uma característica natural do comportamento e, até certo ponto, não confere malefícios (é até um sistema adaptativo de sobrevivência).
Por último, a compulsão em si é caracterizada por comportamentos repetitivos feitos de acordo com certas regras ou de forma estereotipada, levando a ações inadequadas às situações.

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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