Exagero ou compulsão alimentar?
Postado em 21/10/2025 às 17h:45
O comer exagerado – também chamado de comer hedônico ou hiperfágico – difere significativamente do transtorno de compulsão alimentar (TCA). Enquanto o comer hedônico está relacionado ao prazer e à satisfação sensorial proporcionada pelos alimentos, o comer transtornado envolve uma tentativa de aliviar emoções negativas, como desconforto, angústia ou frustração, por meio da ingestão descontrolada de comida. Nesses casos, o indivíduo come até sentir intenso desconforto físico, geralmente em resposta a gatilhos emocionais específicos, e não apresenta compulsão por tipos de alimentos determinados — como a ideia comum de uma “compulsão por doces”.
Vale destacar, que pessoas com transtornos alimentares apresentam comportamentos não estereotipados que culminam em exageros, dos quais são motivados por estímulo ambiental e/ou angústia percebida, mas, para que seja possível caracterizarmos como um transtorno alimentar realmente, tem que haver uma certa frequência desses episódios.
Isso ocorre, pois, há indivíduos que podem manifestar episódios de compulsão (episódios de “binge eating”) de forma não frequente, no momento em que esses episódios vão aumentando a sua frequência, aí sim a situação começa a se caracterizar como um transtorno alimentar.
O comer exagerado/hiperfágico é, teoricamente, “normal”. Esses exageros alimentares são, na verdade, um desajuste/descontrole às sugestões alimentares do ambiente (temos uma certa programação biológica para “aproveitar” essas sugestões alimentares) e, quanto melhor ela for em relação à palatabilidade e experiência subjetiva, mais eu consumo em quantidade – entretanto, só isso não caracteriza um transtorno alimentar.
O transtorno de compulsão alimentar pode estar relacionado com maior risco para obesidade, mas nem todo obeso tem o transtorno de compulsão alimentar. Ademais, quando a pessoa está em um episódio de comer compulsivo, ele está, na realidade, tentando sanar um desconforto, está diante de um sentimento que causa desconforto e que o leva a cometer esse exagero.
O volume alimentar é uma consequência dessa disfunção na hora que esse indivíduo está consumindo, pois ele não tem um sinal de “stop” (parada), ou seja, ele come até causar muito desconforto.
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Outro ponto importante de entendermos é que não existe compulsão por doces e tampouco vício em açúcar, o que ocorre são preferências a determinados alimentos que podem acarretar em exageros de consumo alimentar. Um vício, de fato, acarreta em sensações de abstinência e de desconforto, com manifestações psicológicas e somáticas. Ou seja, o vício por substâncias é completamente distinto de um comer compulsivo frente a determinado tipo de alimento ou grupo alimentar. Vale destacar que, no entanto, um alimento pode ter características que aumentem a sua palatabilidade e, com isso, acabam gerando um reforço nesse comportamento.
Por fim, é interessante diferenciar os termos relacionados a essa temática. O desejo (“craving”, ou “fome seletiva”) é ocasionado basicamente quando há um estímulo proporcionado pelo ambiente para que o indivíduo busque um alimento específico. De outra forma, a impulsividade é quando há pouca ou nenhuma premeditação por parte do indivíduo em comer a mais, é uma característica natural do comportamento e, até certo ponto, não confere malefícios (é até um sistema adaptativo de sobrevivência).
Por último, a compulsão em si é caracterizada por comportamentos repetitivos feitos de acordo com certas regras ou de forma estereotipada, levando a ações inadequadas às situações.
Texto por: Pietra Fogaça – Nutricionista comportamental
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