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Por Pietra Fogaça

Graduanda em nutrição pela UFRGS, antropometrista ISAK nível 1 e atleta de fisiculturismo.

Se você come as suas emoções, leia esse texto

Postado em 30/04/2024 às 09h:35

Neste artigo iremos discutir tudo sobre o chamado “comer emocional” e o hábito tão corriqueiro que muitos de nós temos: comer emoções. Primeiramente, é necessário entendermos que a emoção e a razão não se dissociam, ou seja, elas estão interligadas.

Os nossos comportamentos são emocionalmente motivados, logo, quando vou realizar um ato aquilo já tem uma emoção por trás. O que acontece é que, muitas vezes, essas emoções não são percebidas conscientemente, a gente executa tal ação porque há uma movimentação/impulso.

A partir de toda a concepção que se cria com base naquela experiência, se cria uma narrativa/conclusão do que ocorreu, e aí sim aquilo entra no âmbito racional. Diante dos resultados que obtemos através das nossas ações, conseguimos racionalizar a partir desse resultado sobre aquele evento e, dessa forma, vamos construindo um aprendizado e vamos criando nossas crenças nucleares.

O racional está completamente ligado com o emocional e a maneira como interagimos é para legitimar/justificar aquela nossa resposta. Nós respondemos, depois sentimos e depois pensamos. Dessa forma, um pensamento não causa um comportamento, um pensamento vem depois de um ESTÍMULO/GATILHO ambiental que aí sim reforça um comportamento.

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Dentro do nosso sistema nervoso central há algumas estruturas que são correlatas com esse processo “cérebro-emocional”, o chamado “SISTEMA LÍMBICO” (alguns estudos mostraram que as estruturas cerebrais que faziam parte desse sistema hoje são mais, ou seja, há mais estruturas do que pensávamos).

As principais estruturas desse sistema se encontram na região subcortical (mais abaixo do cérebro) e é justamente nessas estruturas que observamos respostas associadas à RECOMPENSAS (núcleos da base). Há estruturas associadas aos estímulos de recompensa no ambiente e ao medo (amígdala), associadas à memória explícita/conseguimos lembrar e ter noção do que estamos lembrando (hipocampo), memória afetiva (hipocampo).

Ademais, é imprescindível destacar que a região do córtex frontal é chamada de região da razão, do autocontrole, da capacidade de se regular. Essa região está associada com a capacidade de interação social e de emocionalidade com base nessa interação. O órbito-frontal está relacionado com a capacidade de interagir através das ferramentas emocionais. O córtex cingulado serve para sinalizar em relação aos erros de comportamentos, como vergonha, culpa etc. Logo, todas essas estruturas se interconectam e vão direcionando o indivíduo para se comportar melhor no ambiente.

Outros aspectos importantes do nosso comportamento que devemos compreender é o “top down” e o “bottom up”. O top down é quando a gente faz – através do pensamento e da racionalização – uma análise do local e, portanto, manda uma mensagem para as estruturas subcorticais para realizar determinado comportamento. O bottom up, por outro lado, é a parte sensorial (visão, audição, olfato, paladar) que interage com o ambiente e gera respostas.

Dessa forma, é possível entendermos que emoções NÃO são adjetivos, mas sim FUNÇÃO. A frase “eu como porque sou ansioso” não diz nada pois preciso saber em que situação há esse desejo de querer comer tal coisa, em qual contexto isso ocorre, o que esse indivíduo come e quais são as consequências disso. Preciso saber a situação, o contexto, o que engatilhou o acontecimento e quais foram as consequências disso. Emoção é consequência e não causa de um comportamento.

Há um espaço temporal entre o ESTÍMULO/GATILHO e o RESULTADO disso, precisamos entender o que ocorreu nesse meio tempo, qual contexto levou a esse comportamento/resultado, qual foi o reforçador do comportamento, qual a situação. Precisamos entender quais variáveis podem influenciar no comportamento desse indivíduo e quais percepções ele tem a partir dessas variáveis do ambiente.

Outro aspecto muito relevante do chamado “comer emocional” é a parte do desejo. Precisamos entender que desejo é QUERER, e não é prazer. Os comportamentos são resultados de ESTÍMULOS (gatilhos do ambiente) e os pensamentos vêm depois e podem REFORÇAR esses comportamentos. O comportamento por si só já é reforçado pelas contingências diante do estímulo que o ambiente propôs, então ele já é reforçado por si só, e o pensamento vem depois para dar essa LEGITIMIDADE ao comportamento desenvolvido.

Ou seja, o problema não está nas emoções, mas sim na maneira que nos regemos/utilizamos elas.
Suprimir as emoções não resolve, pois nós não controlamos o que sentimos, mas sim COMO REAGIMOS ao que sentimos. Emoção (“comportamento”) são respostas neuroendócrinas que levam o indivíduo a apresentar manifestações corporais e psicológicas diante de um evento, é uma manifestação mais aguda (por isso não controlamos). Emoções são substâncias químicas liberadas em resposta à nossa interpretação de um gatilho específico, ou seja, são respostas afetivas de curto prazo à estímulos (rápidas).

O sentimento é algo que vem depois (quando vejo um urso eu tenho medo porque corro, e não “corro porque tenho medo”). O comportamento antecede o sentimento, a emoção é o comportamento e o “correr” é o ato de demonstrar que estou com medo. As demonstrações/respostas corporais precedem o consciente. Sentimentos acontecem quando começamos a integrar a emoção, a pensar sobre ela, é a percepção consciente das emoções (perduram por mais tempo).

O humor é caracterizado pela excitação psicológica na ausência de estímulos óbvios, não vinculados a um incidente específico, mas a uma coleção de informações, que podem durar vários minutos e são influenciados por diversos fatores (ambientais, sociais, fisiológicos e mentais). Ou seja, a emoção antecede a percepção, você tem medo porque corre, então é o seu comportamento que diz sobre o que você está sentindo, e não o seu sentimento que diz sobre seu comportamento.

Logo, você não “come doce porque é ansioso”, há alguma sinalização no ambiente que acaba te colocando a ter o comportamento de consumir doces e aí você descreve como “ansiogênico”, seja pela situação que antecedeu e causou a sensação de ansiedade – em conjunto com o ambiente que te engatilhou a comer o doce -, ou até mesmo a própria ansiedade (está desconfortável em fazer algo, é como se fosse um “iminente estímulo agressivo” pois você vai comer algo sabendo que aquele algo foi dito para ti como proibido, há uma sensação de fracasso).

Por fim, é válido ressaltarmos que sentimentos não causam comportamentos. Emoção é função, não é adjetivo. Emoção tem função diante de determinado estímulo. Se eu respondo aquele estímulo daquela forma, emocionalmente falando, é porque em algum momento da minha vida eu experienciei aquela situação e a emoção tem a função de me responder para que eu tenha um resultado que o meu organismo considerou adequado naquela situação. Então toda a vez que eu me deparar com aquele estímulo eu responderei dessa maneira, pois foi como eu observei melhor resultado/tive um reforço positivo (não necessariamente algo bom, mas sim algo que me trouxe um resultado favorável de alguma forma).

Texto por: Pietra Fogaça – Graduanda em nutrição

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